Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mostra-se que mesmo com essa privilegiada dotação de fatores, não é capaz de se proteger da lei de mercado neoliberal de bens de consumos essenciais como alimentação básica. A comida mais consumida pela maioria dos brasileiros, o arroz, começa a ser mais um dos vilões que assombram a vida dos que vivem aqui. O país que tenta se recuperar de um período de recessão e baixo crescimento com início em 2015, enfrenta a pandemia mais aguda do século, com a triste marca de quase 140 mil óbitos, causados pelo novo coronavirus, sem haver cessão do vírus, ou registro de vacina segura e eficaz contra a doença, a inflação dos preços dos alimentos, também gera preocupação em nossas vidas.
O arroz, uns dos principais componentes da nossa cesta básica, teve aumento médio de preço de 20% em 2020. A este aumento expressivo existem diversos fatores, tanto do mercado externo e interno, bem como fatores macroeconômicos e microeconômicos.
No meu ponto de vista, o que mais provocou a alta do preço do arroz, são duas causas. Desvalorização do real frente ao dólar americano, principalmente através da redução da taxa básica de juros SELIC, ao menor patamar histórico em 2% ao ano, estimulando mais a exportação do que a venda no mercado doméstico. A queda de juros tem sido atitude comum usada por muitos países para enfrentamento econômico da pandemia. Tal medida, intrinsecamente, gera inflação via aumento dos custos de produção com insumos e implementos agrícolas importados junto com expansão monetária. Outro fator muito importante, mas pouco mencionado, é a redução da área de plantio do arroz, que vem perdendo espaço para a soja devido o preço mais atrativo do produto no mercado internacional, provocando redução da oferta no mercado interno.
Desde 2017 a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), reduz ou até mesmo zera seus estoques públicos de alimentos, como é a situação do feijão. Estes estoques são usados para garantir a renda do produtor e o preço justo ao consumidor, em caso de alguma crise de oferta e demanda do setor.
Embora o Brasil seja um grande produtor de alimentos, os maiores produtores de arroz do mundo são países asiáticos como China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã e Tailândia. Com o início do novo coronavirus na Ásia, ainda em 2019, a China maior produtor e consumidor de arroz do mundo, diminuiu sua exportação desde março de 2020, como política de garantia de abastecimento interno. Situação oposta que fora dotada no Brasil pelas políticas neoliberais dos últimos anos que nos coloca à mercê da cotação internacional. Além das causas de redução de oferta, juros e câmbio, o auxílio emergencial do governo federal de seiscentos reais, e agora trezentos, também impulsionou a demanda pelos itens da cesta básica, neste caso, principalmente o arroz.
Diante desta situação, além do presidente pedir patriotismo aos donos de
supermercados para não repassarem seus aumentos de custos de commodities agrícolas com cotação internacional, a medida mais sensata até agora, foi a política fiscal de isentar imposto de importação do produto.