O jornalista liberal Reinaldo Azevedo respondeu minha crítica (no seu twitter – link nos comentários). Segue minha tréplica

Por Jones Manoel

O jornalista liberal Reinaldo Azevedo respondeu minha crítica (no seu twitter – link nos comentários). Segue minha tréplica – por Jones Manoel

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Imagem: reprodução da internet

Caro Reinaldo Azevedo, escrevo isso não necessariamente para você, mas para todas/todos que vão ler. Acho fundamental, sim, começar esse debate sobre Hannah Arendt, filósofa que você tanto ama e admira. Arendt, frente ao nazismo, tomou posições em defesa da resistência armada

Arendt chegou a apoiar atentados terroristas, louvar adolescentes pegando em armas e escreveu escritos com título inflamado, como o polêmico “doutrina em 6 tiros”. Tudo isso pode ser conferido, por exemplo, na biografia de Elisabeth Young-Bruehl (autora simpática a Arendt)

Para a Arendt no período, frente a uma situação de extermínio e genocídio, frente ao mal encarnado, toda forma de resistência e reação era válida e em si ética, dado que protegia a vida. Em resumo: é ética toda ação contra um genocídio. Ela mudou de posição?

Sabemos que sim. Mas sua posição posterior, especialmente a dos anos 60, não existe a dimensão ética da ação política frente a fenômenos como colonialismo, apartheid, guerras imperialistas etc. Você fugiu do debate filosófico. Fez uma afirmação e não conseguiu sustentar

Usei o exemplo de Luiz Gama que dizia que era ético todo escravo que mata o senhor, uma legítima defesa na dimensão ontológica do conceito. É verdade ou não? O escravo que mata o senhor, o judeu que mata o nazista, o colonizado que mata o colonizador cometem crime?

No fundo, o debate filosófico é: um falso humanismo abstrato, sem história e que só serve aos de cima e um humanismo concreto, realista, comprometido com as lutas de emancipação. É ético desejar o mal a um fascista? Não se trata de princípio geral, mas questão concreta

Você mesmo, quando conveniente, tem uma ética seletiva. Admira muito os Estados Unidos. Cita os Federalistas com constância. Sabe a posição dos Federalistas em relação a escravidão e sabe que todos os presidentes dos EUA que já citou de forma positiva têm mãos sujas de sangue

Obama, Biden, Bush, Bush Pai, Reagan e assim segue, todos eles são responsáveis por milhares de mortes (ou milhões). Isso não enseja de sua parte uma condenação ética e moral do sistema político-econômico dos EUA e dos seus líderes. Você leva como parte da política

Você, assim como Arendt, vê a violência e tira consequências ético-políticas apenas quando quer, um olhar seletivo, arbitrário, comprometido. Fala que não vivemos uma tirania, mas já disse várias vezes no seu programa que ocorre um genocídio no país. O que fazer frente a isso?

É curioso, Reinaldo Azevedo, falar que vivemos um genocídio e em seguida, mandar esperar o protocolo eleitoral, ser pacífico e ordeiro. Imagina que dilema ético chegar para as vítimas do genocídio e dizer: sim, genocídio, mas sejam ordeiros e pacíficos! Esperem!

Eu não debati se a morte de Bolsonaro, agora, seria positiva ou não. Não faz sentido debater isso. Ele não está morrendo. Fiz uma piada, um deboche. Você tentou fazer uma reflexão política. Falou até da eleição de Lula. Como eu disse, fez uma caricatura, um golpe baixo

Seria o mesmo, repito, que eu julgar todo seu pensamento pelos tempos da Jovem Pan ou quando rasgava elogios para Olavo de Carvalho. Ou quando escreveu um panfleto reacionário contra o Racionais Mc por causa da música para Marighella

Eu tanto acho que você é mais do que o reacionário da Jovem Pan que falava babando que “nazismo é de esquerda” que acompanho seu programa. Você poderia fazer uma tese de doutorado sobre uma piada, debater se foi útil, se deveria ser dita em público etc.

Mas jamais querer me ensinar política e com aquele ar de soberba a partir de uma piada. De resto, quanto a sua crítica a fala racista do Mário Frias, nada a comentar. Você falou bem, juridicamente correto e coerente

Nada estranho quando lembro que Arendt, frente ao auge do movimento negro nos Estados Unidos, depois de mais de 70 anos de regime de apartheid, saiu para criticar a “violência” do… movimento negro.

Abraços, bom programa e se possível, leia Frantz Fanon!