Vou escrever aqui sobre Eduardo Leite

Por Humberto Matos (Saia da Matrix); Charge de Dumont

Vou escrever aqui sobre Eduardo Leite – por Humberto Matos (Saia da Matrix); Charge de Dumont

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Imagem: charge de Dumont

Gente seguinte, eu tenho compreensão que se assumir gay não é fácil em uma sociedade machista, não é nem um pouco simples enfrentar preconceitos, sei que trata-se de uma luta, de um processo muitas vezes violento que pode deixar marcas para toda a vida, se assumir é, portanto, uma vitória, vitória do orgulho, uma luta dura que muitos sucumbem nela.

Dito isso, por que eu não consigo “parabenizar” nosso governador por sua atitude de em rede nacional trazer a sua sexualidade à baila? Porque, na minha interpretação, em hipótese alguma o “se assumir” do Governador se enquadra no que eu descrevi acima, ao contrário, me parece estratégia que envolve uso oportunista dessa situação. Eu explico.

Leite não chegou agora, não virou Governador “do nada”, é figura de longa formação política do PSDB de Pelotas, foi prefeito lá, fez sucessora, ficou inclusive famoso por negligenciar com fraude em testes clínicos de câncer, que certamente podem ter colaborado com a morte de muita gente que necessitou daquele tipo de atendimento, uma prática cruel motivada, quem sabe, por questões pouco éticas, para dizer o mínimo.

Elegeu-se Governador do Estado surfando a onda bolsonarista, pedindo voto da “comunidade lgbtfóbica”, desviando o assunto e no limite, negando a sua sexualidade durante a campanha. Eduardo Leite é jovem, conhecido em Pelotas, sua sexualidade nunca pareceu segredo, como nunca pareceu segredo que sua postura em relação a isso era de não exposição, de discrição, de não uso político. Como disse, não se trata de figurinha nova.

Quando foi tentado fazer uso político dessa situação na campanha, a postura dele foi a de outras campanhas, desviar e no limite negar as afirmações. Direito dele, ademais, combinava com o eleitorado abertamente homofóbico que ele também buscava.

O ponto agora me parece o seguinte, há uma possibilidade de ele ser lançado candidato a Presidência pelo PSDB, para isso ele precisa preencher alguns requisitos como se encaixar na chamada “terceira via”, se desvincular de Bolsonaro. Mais, ele é figurinha conhecida aqui no Estado, a nível nacional não, engana bem, discurso manso, sorrisinho padrão de beleza global, “moderno” e agora, quem sabe moda, “progressista”. Vejam, não estou dizendo que ser gay é ganhar popularidade em um país como o nosso, não é isso. É o recado para o lado que está se mandando, é o “timing”, é o uso nestas circunstâncias por um cara que está há tempos na política mas, que sempre desviou dessa afirmação pública. Por que na sua primeira aparição como protagonista nacional, com mais tempo, ele coloca isso?

E outra, porque o “se assumir” de Eduardo Leite não pode ser comparável com o que eu descrevi no primeiro parágrafo? Gente, Leite não é um(a) adolescente oprimido(a) pela sociedade, pela família, que tem medo de não conseguir emprego, não é um cara casado que nunca teve coragem por causa das sanções sociais e que teme assumir-se pelas mesmas sanções sociais, preconceito, não é uma pessoa com medo de perder o emprego, de sofrer preconceito na sociedade e na família, sem condições de buscar apoio, nada disso. É um líder, convive com essa situação de liderança não é de hoje, bem estruturado, em condições totais de enfrentar o preconceito porque há já em sua caminhada uma esteira sólida que o coloca como figura dominante na sociedade, a despeito de não ser hétero.

Então vejam, não consigo, me desculpem, ver como um ato de coragem ou libertação, me soa simplesmente como cálculo político e uso da dor, do preconceito, da luta que é esse processo para a esmagadora maioria, para autopromoção e construção de um personagem que ele definitivamente não é. O que concretamente ele é, e talvez por isso essa construção em cima dele, é um cara muito competente no desmonte do serviço público. Conseguiu passar pela exigência história de plebiscito para a privatização da CEEE, companhia de energia do Estado, órgão lucrativo, estratégico e com fundamental função social, fez isso para entregá-la por um valor meramente simbólico. Destruiu a carreira dos professores e desmontou a estrutura da educação em níveis insuperáveis, descontou salário de greve justa realizada por professores sem reposição da inflação há mais de quatro anos, que recebiam seus vencimentos parcelados. Fora a incapacidade de dialogar com todas as categorias, é um cara que vem governando com autoritarismo, que não dialoga, que governa exclusivamente para os ricos, brancos, héteros, jamais para qualquer minoria.

Então me desculpem, eu não parabenizo Eduardo Leite por nada, estaria o parabenizando pelo uso oportunista de nobre causa, estaria o parabenizando por estratégia de marketing político, porque na vida real ele senta o chicote no lombo dos gays e demais minorias, assim como faz no lombo de todos os trabalhadores já que ele é um representante legítimo da burguesia liberal mais fétida responsável pelo Bolsonarismo, inflação e desemprego em massa que vivemos.

Desculpem, comigo não.