Sobre diamantes, bilionários e negros

Por Jones Manoel

Sobre diamantes, bilionários e negros – por Jones Manoel

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Imagem: reprodução da internet

O capitalismo, por definição, é um regime econômico de concentração de renda e riqueza. Sempre teremos uma minoria concentrando renda e riqueza – uns países com mais concentração e outros com menos, mas sempre concentração.

Não existe isso de “todos ricos”. Isso é um delírio e desconhecimento do capitalismo. Para existir um bilionário usando um diamante de milhões tem que existir milhões de trabalhadores/as explorados e vivendo com pouco ou nada. São relações complementares.

Sem falar no fato de que boa parte dos diamantes em circulação vem de África. Mercado explorado por elites locais e dominado por monopólios estrangeiros, normalmente de origem do país colonizador. Quem fica rico com esse comércio mora na França, Inglaterra, Bélgica etc.

O Congo, por exemplo, é um país riquíssimo em minérios. O Congo também é rico em diamantes. É provável que boa parte dos diamantes no pescoço de celebridades vêm do Congo. Olhem a situação econômica do país e da classe trabalhadora: miséria e subdesenvolvimento.

Então, quando você olha um bilionário dos EUA com um diamante milionário, pense em duas coisas: isso expresssa a exploração de milhares nos EUA e também a exploração na ordem internacional, o imperialismo, o subdesenvolvimento, especialmente de África.

E quando a pessoa bilionária é negra? Não muda a dinâmica. Continua expressando concentração de renda e riqueza no plano interno e internacional. O diamante do Congo tá no corpo de um bilionário negro ou branco não muda em nada os mecanismos de exploração e subdesenvolvimento.

E a questão da representatividade? Veja. Se uma pessoa precisa de uma celebridade da grande mídia para se reconhecer, sentir-se bem consigo mesmo e se aceitar, já temos um problema. Especialmente se autoestima está ligada a dinheiro e ostentar riqueza.

Pense que problemático. Uma mulher ou um homem negro precisa ver uma celebridade bilionária para se sentir bem? Então autoestima, reconhecimento e identidade está ligada a riqueza, a ostentação e não a uma história de luta, resistência, força, combate.

Fora isso, num mundo com cada vez mais precarização, pobreza, desemprego, baixos salários, concentração de renda e riqueza, qual o efeito mesmo de um pobre cada vez mais precário ver uma bilionária com diamante? Isso realmente melhora a autoestima? Nunca vi provas disso.

Acrescento que falar “quero que todas as mulheres negras usem diamantes” é uma besteira. Eu quero que o Vasco ganhe a Libertadores todo ano. Não vai. No mundo real, as mulheres negras do Brasil, EUA e África estão cada dia mais pobres e exploradas.

Mas tem quem ganha com esse discurso de empoderamento via representatividade? Sim. Pessoas de classe média que querem mais espaço no mercado com melhores posições e salários e usam esse discurso para disputar mais oportunidades. Zero problemas. Mas não combate o racismo.

Dona Maria, mulher negra e pobre, não vai ter nenhuma mudança na sua condição, mas é possível que figura que seja jornalista ou ator sem espaço na mídia melhore suas oportunidades. Zero problemas. Mas isso não é luta antirracista. E nunca vai acabar com o racismo.