O dia que eu quis ser playboy

Por Paulo Gallo

O dia que eu quis ser playboy – por Paulo Gallo

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Imagem: Scarlett Rocha

Eu havia assistido o filme “O Segredo” e muita coisa na minha vida naquela época tava dando errado, resolvi praticar “O Segredo” que basicamente é a lei da atração se você pensa positivo coisas positivas acontecem. Como havia dito muita coisa tava dando errado pra mim sonho, trabalho, família e vida amorosa comecei a passar o dia todo pensando em coisas positivas, mas parecia não funcionar.

Na época sempre me encontrava com alguns amigos numa das esquinas aqui do bairro e o papo sempre girava em torno do crime local quem morreu, quem matou, quem foi preso, quem apanhou e quem bateu. Eu me afastei desses amigos pois eu tava pensando positivo mas tava cercado de negatividade então não ia funcionar “O Segredo” mesmo pensando positivo, mesmo me afastando de negatividade, as coisas pareciam não melhorar, então decidi não falar mais gíria nem palavrão, entrei num processo de me odiar e odiar o meu entorno, mas mesmo assim não funcionava. Pensei comigo deve ser onde moro, preciso sair daqui, eu tinha me isolado e tinha pensado em um plano de vira playboy más não me senti confiante em praticá-lo sozinho então resolvi explicar ele pra um amigo meu.

Chamei esse amigo e falei do filme que havia assistido e expliquei o que tava praticando mas não tava funcionando, disse meu plano que era o seguinte. Nois iria curti uma festa no bairro dos Boy pra se enturma lá, porque os Boy pensava positivo a maioria deles então era por isso que tudo dava certo pra eles, porque a playboizada sabia pratica “O Segredo”, então nois ia lá curti um role e se enturma pra começa a andar com eles e sai mais da quebrada o meu truta fico desconfiado mas aceitou eu tava muito decidido e isso convenceu ele.

Era sábado a noite, fomos pra Vila Madalena, nois tinha 50 real e começamos a andar pela Vila a procura de um lugar pra curtir e conhecer a playboizada, nois ando bastante até ouvi uma batucada e aí o som guio nois até um bar todo espelhado nois entro e tava lotado de boy parecia o lugar perfeito, o segurança entro com nois e ficou perto, nois fico encostado na parede, sem jeito, sem conseguir ficar a vontade, mas eu tava decidido fui no bar pedi duas cervejas era 15 real, pensei droga vamo fica só com 20 foda-se peguei a cerveja e voltei pra parede kkkkk o segurança do lado, fazia parecer um enquadro. Eu comecei a analisar as pessoas e ver quem eu abordaria pra iniciar um papo, fui olhando e avistei uma mulher, alta, linda, negra, pensei comigo vou lá puxa papo com a negona ela não vai trata eu mal certo? Errado. Me aproximei e disse oi e ela me olhou com um desprezo que eu voltei pra parede com vontade de volta pra casa, vi ela se aproximar de um grupo de patricinhas e começar a rir. Hoje eu entendo o que aconteceu provavelmente aquela mulher tava fazendo o mesmo que eu tentando parecer daquele lugar e claro que eu ia atrapalhar o disfarce dela kkkk. Falei pro meu mano vamo mete o pé ele não pensou duas vezes entrou ali sem abri a boca encostou a parede e só descolo da parede quando chamei pra ir em bora e claro o segurança que acompanho nois lá dentro, acompanhou nois até a saída também.

Eu tava desanimado o plano tava dando errado fiquei pensando no olhar de raiva que a nega deu né mim e já queria ir em bora, não queria passar por aquela denovo, até porque só restava 20 agora. Nois tava já desistindo e indo embora quando derrepente nois viu uma quadra escura toda grafitada com uns degrau de arquibancada onde tinha um pessoal parecido com nois sentado, resolvemos encosta fizemos amizade fácil, rápido o pessoal tava ali na função vendendo uma droga, nois fez um rateio e compramos uns vinho, fiquei ali bebendo vendo a playboizada comprando droga os cara zoando com a cara dos boy assustado e eu pensando em como o plano falhou, quando me dei por conta meu mano tinha metido o pé (depois me explicou que me chamou pra ir embora mais eu não dei atenção e ele saiu fora sozinho) eu já tinha bebido bastante vinho e aí apareceu um mano na pikadilha de boy zoio azul cabelo liso com os bolso cheio de doce (droga sintetica), nois fico amigo trocamos várias ideia perguntei pra ele se ele conhecia um lugar ali que tocava umas música dahora, rap e pá ele falo tô indo numa ali quer ir eu respondi demoro.

Andamos uns 500 mts até chegar numa porta o segurança já foi abrindo a porta o mano passo eu passei fácil, descemos uma escada e chegamos a festa que era num porão, tava tocando Nina Simone só tinha boy, pensei kkkkk nem tudo está perdido da tempo de ser playboy o plano ainda tá de pé, o povo da festa só falto bate Palmas pro mano que me levou lá todo mundo feliz com a chegada do traficante, deu 5 min e tinha 4 playboy querendo ser meu amigo, derrepente passo correndo um playboy pelado com um cocar de índio, tocava nina Simone e na sequência um remix eletrônico zoado mas eu fingia que gostava pra ninguém ali perceber que eu não curtia, uma mina com os seios a mostra veio conversar comigo e eu fingia achar normal como se já tivesse passado por festas como aquela pra ela não perceber, ao mesmo tempo que estava feliz pelo plano ainda estar de pé eu me sentia um peixo fora d’água. A festa seguiu o dia clareo e o mano que tinha me levado lá me convidou pra ir numa casa ali perto a festa ia continuar lá. Aceitei a casa era um ateliê farias obra de arte, o som começou e eu analisando tudo a mina que tava conversando comigo na festa com os seios a mostra agora tava lá sem nada na minha frente perguntado por que eu tava tenso e eu disfarçando dizendo que tava de boa, ela me ofereceu um doce, eu recusei e ela colocou o doce nos lábios e me deu um beijo, eu fexei os olhos e comecei a escutar o Brown cantar na minha cabeca: ” ihhh mais começou andar com os branquinho do shop aí já era”. A música retrata um mano dahora que se inludio no role com os boy e acabou virando nóia, morado de rua e tal final zuado e eu me enxerguei no lugar do personagem da música, abri meus olhos e não senti necessidade de explicar por que tava saindo fora nem acho que alguém ali sentiu falta disso.

Voltei pra quebrada já era meio dia, os mulheres dando grau, as criança correndo, bares lotados e na praça tava meu mano que havia me deixado lá no role sozinho, cheguei nele e falei:
– Caraio cuzao me abandono nem deu um salve em seu arrombado filho da puta, ele me olhou deu risada e disse:
– Aí cuzão mataram o Kell essa noite, tá sabendo? E eu respondi:

– Não, como é que foi a fita?