Gênero e Colonialidade – recomendação

Por Aline Passos

Gênero e Colonialidade – recomendação por Aline Passos

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Imagem: reprodução da internet

Eu uso muito esse texto da Rita Segato nas minhas aulas. Ele trata, entre outras coisas, do que eu chamo precariamente de reboot ou boomerang da masculinidade.

Rita mostra como, nas relações entre homens das aldeias do Xingu e o homem branco e colonizador, a inferiorização dos primeiros frente ao último tem um efeito devastador nas relações com as mulheres e crianças das aldeias. A masculinidade humilhada fora, volta-se para e contra a aldeia em forma de autoafirmação, não raro, muito violenta.

Não é nova a lição da antropologia de que pensar outros povos, outras relações e espaços ajuda a gente a entender como nossa própria realidade. Por isso me parece, quando vejo discussões sobre militarismo, guerra, relações entre países com notável desnível bélico, que temos uma ótima oportunidade de perguntar onde estoura, onde sempre estourou, as performances da masculinidade, dentre elas, o militarismo?

Tem umas coisas ótimas também da Judith Butler, no “Quadros de Guerra”, analisando o tipo de tortura a que as tropas americanas submetiam presos em países do Oriente Médio e que daria uma ótima discussão.

E isso tudo (masculinidade, colonialidade, militarismo) dentro de uma estratégia de dominação em que o liberalismo político (se é que essa separação do econômico algum dia fez sentido) é a força que organiza as democracias ocidentais e que, ao mesmo tempo em que fala muito de limitar o estado, é altamente militarista quando se passa à análise das relações entre estados, ou relações internacionais, se preferirem. Obviamente, os EUA são exemplo privilegiado.

“Esta masculinidade é a construção de um sujeito obrigado a adquiri-la como status, atravessando provações e enfrentando a morte – como na alegoria hegeliana do senhor e seu servo. Sobre este sujeito pesa o imperativo de ter que conduzir-se e reconduzir-se a ela ao longo de toda a vida sob os olhares e a avaliação de seus pares, provando e reconfirmando habilidades de resistência, agressividade, capacidade de domínio e exação do que chamei “tributo feminino” (op. cit.), para poder exibir o pacote de seis potências – sexual, bélica, política, intelectual, econômica e moral – que lhe permitirá ser reconhecido e qualificado como sujeito masculino” (Segato)