Quer ser bem vista(o)? Vista um terninho “chique”, toque piano e fale mal de Funk

Por Thiago Alves De Souza

Quer ser bem vista(o)? Vista um terninho “chique”, toque piano e fale mal de Funk – por Thiago Alves De Souza

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Imagem: reprodução da internet

Quer ser bem vista(o)? Vista um terninho “chique”, toque piano e fale mal de Funk. Mesmo que você não entenda nada de música, você terá maior aprovação social.

Sejam todes bem-vindes a mais uma reflexão, família.

Bom, eu tive muitos privilégios, apesar da minha origem muito simples, mas um privilégio bem inusitado que eu tive foi saber como é visto um músico clássico e como é visto um funkeiro.

A minha formação foi em música clássica e antes de me revoltar com o conservadorismo dos conservatórios musicais e das universidades de música eu era um estudante de música clássica, tocava violão clássico, piano e era compositor desta linguagem também… E, rapaziada, quando eu me apresentava como alguém da música clássica era outro rolê… Não passava por preconceitos e xingamentos.

Quando apresentava uma pesquisa sobre a música clássica ninguém ia nos comentários dizer: “olha o absurdo que fazem com dinheiro público pesquisando coisas como esta”. Por mais “inútil” que fosse a pesquisa, só pelo fato de eu estar falando de música de concerto de tradição europeia, todos respeitavam e idealizavam… Como o mundo é podre, né?

Apesar de eu ter ficado mais conhecido dizendo que Bum Bum Tam Tam é mais complexo que Bach, eu ganho a vida dando aulas de música e ensinando Bach. Mas, eu não quero ser conhecido por ser um professor de música clássica, quero que me conheçam como alguém do Funk. Por quê?

Não só porque eu amo o gênero e me identifico profundamente com a estética do Funk, mas, porque eu não quero me beneficiar do prestígio que vem de uma estrutura perversa que dá prestígio a tudo o que está associado a uma elite branca e europeia.

Acho que vocês que me seguem estão até cansados de me ouvirem falar dos conceitos de Capital Simbólico e Capital Cultural do sociólogo Pierre Bourdieu. Grosso modo, esses conceitos falam do prestígio que certas manifestações têm em relação a outras, portanto, idealizar Bach e chamar o Funk de lixo são duas faces de uma mesma moeda.

Quer ser bem vista(o)? Vista um terninho “chique”, toque piano e fale mal de Funk. Mesmo que você não entenda nada de música, você terá maior aprovação social. O mundo é podre. Obrigado pela leitura.