LEMBRANÇA DO FRIO, DA FOME E DA MORTE

Por Luis Fingerman; via Maria Regina Vendramel

LEMBRANÇA DO FRIO, DA FOME E DA MORTE – por Luis Fingerman; via Maria Regina Vendramel

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Imagem: reprodução da internet

Pelos idos de 1975, não lembro exatamente a data, fui contratado pela comunidade da Favela Funerária, Parque Novo Mundo, São Paulo, SP, para realizar, a revelia do poder público, a reurbanizacao da área. De fato, eram cinco comunidades que conurbaram, perfazendo uma população, de acordo com o IBGE, de dezessete mil pessoas.

O local era o antigo leito do rio Tietê, que havia sido retificado e portanto, a sobra era uma depressão. Ao tempo, o local era usado para descarregar entulho, então uma parte da gleba ficou no seco. Detalhe, os moradores pagavam pela carga. Quando chovia, uma parte ainda considerável das comunidades ficavam ilhadas ou suas moradias, construídas sobre palafitas, como que flutuavam sobre as águas.

Junto com as lideranças, percorri toda a gleba para dimensionar e pensar em soluções aos problemas.
Numa das vezes, num dos setores de palafitas, onde moravam estes mais miseráveis, adentramos um barraco. Os moradores era um casal de idosos. O pé direito era tão baixo que eu tinha de ficar curvado. Não havia qualquer mobiliário. Nem muda de roupas, nem cobertas. A área total não atingia quatro metros quadrados.

No centro do cômodo havia um pedaço de lata onde ardia um fogo com poucos de gravetos. Estavam aquecendo uma latinha com um pouco de água. O velhinho, com os olhos em lágrimas, falou para mim: é o nosso almoço.
Dedico está lembrança a todos genocidas filhos da puta do nosso Brasil.
Está noite a temperatura chegou a doze graus.

A miséria, segundo as mídias, atinge dezessete milhões de brasileiros.