BOLSONARO: UM CANTO DO CISNE?

Por Luiz Carlos De Oliveira e Silva

BOLSONARO: UM CANTO DO CISNE? Por Luiz Carlos De Oliveira e Silva

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Imagem: reprodução da internet

1. As manifestações de hoje, Dia da Independência, esclarecem muita coisa sobre o bolsonarismo e sobre a estratégia de Jair Bolsonaro para a segunda metade de seu governo.

2. As manifestações, apesar de terem ficado aquém do esperado, mostraram que o bolsonarismo é uma força política importante, que só encontra rival no lulismo; mas sem o poder de atração desse último, devido à estreiteza de sua agenda de ruptura institucional. Ficou patente que o bolsonarismo é uma força política importante, mas encontra-se isolada no espectro político brasileiro.

3. Quanto à estratégia, Bolsonaro dá a impressão de não ver alternativas para si e para o seu governo senão na radicalização do tipo “na ordem, contra a ordem”. O “enquadramento” do Congresso e do STF lhe são essenciais, já que as prioridades de Bolsonaro são evitar o impeachment de seu mandato e condenações judiciais contra si e seus filhos.

4. Acuado como se encontra, tudo se resume a isso: “enquadrar” os demais poderes, o que estreita sobremaneira a possibilidade de angariar aliados para a sua agenda, vista por muitos como uma agenda de caráter particular. Bolsonaro é, cada vez mais, a sua própria causa, e isso tem preço.

5. Bolsonaro deu indícios de que pretende queimar os seus navios, à luz do prognóstico que ele mesmo faz acerca de seu futuro: “morto, preso, ou vitorioso”. O anúncio da estapafúrdia convocação do Conselho da República para amanhã, dia 8, sem ter tido a gentileza elementar de informar previamente os membros daquele colegiado, escancara a intenção de Bolsonaro de usar as “ruas” para “enquadrar” o Congresso e o STF.

6. Por essa via, Bolsonaro acrescenta mais uma hipótese às três mencionadas por ele: a desmoralização. O resultado mais provável dessa manobra tosca e aloprada, me parece, será o que se costuma chamar de “tiro no pé”. Bolsonaro, prevejo, sairá das manifestações de hoje com a imagem do cachorro que ladra mas não morde.

7. As manifestações foram massivas, mas circunscritas a um único segmento político-ideológico, e sem qualquer indício de que a sua pauta “golpista” possa ser abraçada, pelo menos no curto prazo, por outros setores do quadro político brasileiro. Isolado, Bolsonaro apelou para as ruas, o que expôs o seu desespero antes de expor a sua força. O resultado de toda essa pantomina deve ser o aumento do seu isolamento.

8. Todos percebem, à exceção dos bolsonaristas, que a estratégia de Bolsonaro só interessa a ele e a seus filhos… Os militares têm agenda própria e a plutocracia tem mais o que fazer do que bater palmas para maluco dançar.

9. Quem sai fortalecido depois das manifestações de hoje? Os generais Mourão e Santo Cruz devem ter adorado o que viram hoje na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas não só esses: as vertentes civis da assim chamada terceira via também devem ter se divertido à larga.

10. Hoje, o bolsonarismo deu uma demonstração de força, Bolsonaro deu uma demonstração de fraqueza… A reunião do Conselho da República tem tudo para ser um fiasco para Bolsonaro. Assim, as manifestações do Dia da Independência podem ter sido o canto do cisne do governo Bolsonaro.