Sobre Bolsonaro no encontro com o Partido Nazista Alemão

Por Hugo Albuquerque

Sobre Bolsonaro no encontro com o Partido Nazista Alemão – por Hugo Albuquerque

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Imagem: reprodução da internet

Muita gente se choca com a suposta “estupidez” de Bolsonaro no encontro com o Partido Nazista Alemão, hoje repaginado sob o nome de Alternativa para a Alemanha (AfD). Mas isso é só parte da costura do Bolsonarismo tardio, o que inclui a Ucrânia e até, mesmo, Biden.

Sim, esses movimentos de política internacional, no pós-Trump e pós-Netanyahu, são mexidas no tabuleiro onde Bolsonaro busca sobreviver. O AfD, hoje o terceiro partido alemão, tem cooptado setores do aparato de segurança de seu país e isso interessa ao Bolsonarismo.

O caráter de continuador do Nazismo por parte do AfD é inegável. São inúmeros descendentes de quadros militantes nazis lá. Sim, a Alemanha Ocidental nunca foi desnazificada inteiramente, com vários quadros nazis ingressando na Democracia Cristã. Mas isso aqui é diferente.

Diante da crise de 2008, o avanço da esquerda na Europa e, de repente, se tolerou o ressurgimento de um partido de extrema-direita na Alemanha. Nada é por acaso, muito menos na rígida Alemanha. O AfD é um dentro e contra do sistema alemão, curiosamente permitido.

Se não houvesse tolerância, e até estímulo do establishment alemã, o AfD já teria sido proibido. O AfD interessa a Bolsonaro pela infiltração no aparato de segurança alemão e possível tráfico de armas.

É natural essa costura com o AfD e, simultaneamente, as idas de Eduardo Bolsonaro à Ucrânia? Não necessariamente. O AfD é anti-europeu e frequentemente pró-Rússia, até anti-Ucrânia. O Bolsonarismo está juntando as pontas do que seria o radicalismo de direita no mundo.

A aproximação de Bolsonaro, chegando a enviar seu próprio filho à Ucrânia, só acontece no pós-Trump. E isso marca uma aproximação com o “Ocidente” profundo, por um viés “vocês podem me odiar, mas odeiam mais a China e a Rússia, e eu sou um remédio amargo para ambos”.

E o negócio com a Ucrânia interessa aos militares brasileiros. Inclusive, como forma do Brasil se aproximar da Otan e de novas rotas de comércio de armamento e intercâmbio bélico.

Bolsonaro nunca enganou figuras como Dugin, mas alguns estrategistas do Kremlin viam o governo “iliberal” dele com esperança. Trump jamais tomou a Ucrânia do controle Democrata. Se Bolsonaro entra lá hoje, isso é com aval da administração Biden.

Em resumo, a costura de Bolsonaro é com as duas mãos: (1) a construção de uma coexistência com Biden, e seus esquemas globais como na Ucrânia, em nome de interesses e inimigos em comum e (2) a radicalização das alianças com a extrema-direita mais dura e caricata.

P.S.: mas de novo, ainda que chegue no limiar do establishment, o AfD não está fora dele por completo. Caso contrário, não teria registro e não poder ocupar cadeiras no Parlamento. São as duas capas de um projeto de direita extrema de hoje.

P.S.B: a Ucrânia de um hoje é um regime hegemonizado por oligarcas ultraneoliberais com o apoio de grupos fascistas. O AfD é uma organização fascista que não quer ser apenas base de apoio. Eles não conversam entre eles, mas Bolsonaro conversa com ambos.