Tenho lido o que encontro de textos assinados por esses generais que se agrupam em torno do governo Bolsonaro. Concluí que o problema deles não é falta de informação, mas bloqueio ideológico e limitação cultural que os impede de articular a informação de que dispõem para uma efetiva inteligência geopolítica.
No que nos interessa aqui, a referência única de todos eles em ciência política – e nas ciências sociais em conjunto – é Alexis de Tocqueville, não por acaso o guru do liberalismo norte-americano.
Tocqueville é um iluminista tardio, descendente de nobres perseguidos na Revolução Francesa. Nascido em 1805, foi radical defensor retórico da democracia formal e da igualdade entre os cidadãos.
Foi o conceito estrito da palavra “cidadão” que permitiu a esse erudito francês um tanto fora do tempo ser bem aceito pela elite dos Estados Unidos da época: convencido da superioridade dos brancos europeus sobre quaisquer outros humanos – os não-cidadãos – aceitava coisas que fariam outros liberais da época torcer o nariz: tanto a escravidão dos africanos quanto a eliminação dos ameríndios para dar espaço aos colonos que superpovoavam a Inglaterra.
De certa forma, foi precursor do darwinismo social e um dos prógonos do branqueamento, ou do segregacionismo étnico.
O difícil, para nossos generais, se eles pensassem e conhecessem, de fato, o pensamento de quem tanto citam, é conciliar essa perspectiva com a história oficial do Exército Brasileiro.
Como lembrou o General Pujol em recente ordem-do-dia, nosso Exército nasceu na Batalha de Guararapes – origem escolhida porque, nela, em pleno período colonial, negros, índios e brancos se uniram para expulsar o invasor holandês.
É bom sempre lembrar que não sonos um país de bancos e negros, mas de mestiços, do ponto de vista físico e cultural e isso nos distingue; é do que nos deveríamos orgulhar, ampliando ao limite do universo os conceitos de liberdade e democracia.