Dona Luzia tinha 60 anos. A neta, uma moça de 15 anos estava certa que ali estava a solução definitiva para a tonteira que acompanhava sua avó desde que ela tinha a sua idade.

“Me conte, Dona Luzia. Como é que a senhora sente?”

“Pois então doutora. Eu sinto isso desde menina. A tonteira vem e não me deixa. Fico dias tonta. Já fui em otorrino, em fonoaudiólogo, em fisioterapeuta. Já tomei remédio de vertigem milhares de vezes. Nada melhora.”

“E como é que essa tonteira passa?”

“Passa sozinha. E daí um tempo volta. Já me disseram que era emocional, mas eu sou uma pessoa bem calma, bem tranquila. Costumo ser bem humorada, então não sei se concordo com isso.”

“Você já reparou o que faz disparar as crises?

“Quando eu era moça eu achava que era a menstruação.”

💡! “E quando você está em crise, o que mais você sente?”

“Sinto enjôo. E uma parte da minha vista direita fica preta. Quando a crise passa, ela volta ao normal.”

💡! “Antes da crise chegar você percebe que ela está chegando? Como se o corpo desse um aviso?”

“Sim! Eu sinto os braços e as pernas bem pesados. Quando isso acontece eu já sei que ela já vem.”

💡! “E você sente dor de cabeça quando essa tonteira aparece?”

“Sinto, sim. Bem aqui em cima do olho direito. Fica latejando e muito sensível à luz.”

💡! “Tem casos de enxaqueca na sua família, Dona Luzia?”

“Muitos.”

Bingo! 💡Meu eu Cherloquirrolmis atacou novamente. Não se tratava de um quadro de vertigem rotatória como a paciente suspeitava. Era um quadro de enxaqueca com uma apresentação atípica. O tratamento que fez melhorar a intensidade e a frequência das crises foi um tratamento para enxaqueca. Retiramos todas as medicações para vertigem e ela ficou ótima. 45 anos de sintoma. Fico feliz quando uso essa sofisticada máquina de fazer diagnóstico chamada ouvido. ☺️