Os 5800 trabalhadores do armazém da Amazon em Bessemer, nos EUA, estão a votar se constituem um sindicato, seria o primeiro na empresa. Na Europa, a adesão a sindicatos é facilitada pela lei, mas isso não evitou surpreendentes ameaças: a Amazon publicou em setembro um anúncio para o recrutamento de dois “analistas de inteligência” (deviam ser fluentes em francês e espanhol) para investigarem “ameaças de organização laboral na empresa”. Retirou o anúncio quando os sindicatos europeus protestaram. No caso dos Estados Unidos, onde essa organização não existe, a empresa escreveu aos trabalhadores sugerindo que recusassem o sindicato e oferecendo-se para trocar a quota sindical pela ofertas de serviços. O clamor provocado por esta insistência levou 70 acionistas a sugerirem à administração que se mantivesse neutral quanto às decisões de sindicalização dos seus funcionários.
Se a proposta for aprovada, tratar-se-á do primeiro gigante tecnológico a ter um sindicato maioritário numa das suas instalações. A sindicalização nos Estados Unidos é muito baixa, cerca de 7% no setor privado (só na educação, incluindo as escolas públicas, alcança valores superiores, 30%) e no setor das tecnologias de comunicação é metade disso. Seria portanto um princípio de mudança, o que também explica a resistência feroz da administração. Noutra empresa, a Google, tem havido protestos de grande dimensão, como em 2018, quando vinte mil trabalhadores fizeram greve, mas dos 300 mil funcionários só cerca de 0,3% pertencem a um sindicato. O voto na Amazon pode, assim, iniciar um efeito de contágio, que a empresa quere evitar. O novo mundo que nos prometeram parece-se demasiado com o velho, pelo que o direito sindical seria uma boa notícia.
(no Expresso)