Pesquiso e trabalho com segurança pública tem quase 30 anos. E há anos falo, inclusive em espaços privilegiados como o Fbsp Fórum Segurança que as polícias brasileiras, principalmente as militares, não são instituições democráticas (ressalvo que há muitos policiais democráticos; aqui, a análise é INSTITUCIONAL).
Hoje, 24/08, véspera do “dia do soldado”, uma associação nacional de policiais militares explicitou, EM NOTA PÚBLICA, o que há muito tempo já sabemos: deixaram claro de que lado estão (e sempre estiveram).
Publicaram que no caso de um golpe (como o que vem sendo arquitetado a olhos nus por Bolsonaro) não se subordinarão aos governadores (seus comandantes civis, conforme determina a Constituição), mas seguirão o EB.
O pacto entre as elites com os militares que redundou na redemocratização e na CF de 1988 concedeu excrescências às FFAA brasileiras, entre as quais um arranjo segundo o qual as polícias militares são forças auxiliares do Exército.
E todos sabemos muito bem o que isso significa na prática: vigilância e repressão aos “inimigos internos”, bem ao espírito da ditadura, e aliança militar contra a ordem constitucional em tempos de golpe.
O ovo da serpente que vem sendo chocado há décadas e foi colocado à vista da sociedade e “das instituições que funcionam” por Bolsonaro poderá eclodir porque houve cumplicidade dos setores democráticos da sociedade que passivamente assistiram, nestes mais de 30 anos pós Constituição, as ilegalidades praticadas pelas polícias contra pobres, pretos, vulneráveis e mais recentemente, inclusive nos governos de esquerda, o Exército voltando à função pretoriana (outra excrescência permitida por lei) com os famosos GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Falta de aviso de muitos, entre os quais me incluo, não foi.