Para este conteúdo trazemos dois textos: o primeiro, do professor Carlos Zacarias, sobre Serviços Públicos no geral como saúde, educação, fiscalização, segurança e limpeza urbanas, trazendo uma analise histórica e contemporânea. O segundo, da professora Aline Passos, sobre os correios e suas experiências com a empresa estatal.
Além disso, apresentamos 2 charges de Myrria e recomendamos a página ‘É Público, É para todos‘, que divulga e clama pela luta em defesa do bem público e nossos servidores.
Aproveitem!
Uma análise histórica e contemporânea do Serviço Público do Brasil
Texto do professor Carlos Zacarias
Se você conversar com qualquer pessoa, ela vai lhe dizer que educação e saúde de qualidade são coisas essenciais e que ela gostaria que fosse ofertado pelo Estado. Ninguém vai reclamar se tivermos limpeza pública, ruas seguras, fiscalização adequada sobre tudo aquilo que consumimos e todos concordarão que os nossos impostos devem retornar na forma de bons serviços. Entretanto, as pessoas não se dão conta que pra que haja bons serviços é preciso haver também servidores suficientes, bem treinados, bem remunerados e com condições de trabalho, então os brasileiros costumam fazer um discurso contraditório, porque esperam uma boa oferta de serviço público da parte do Estado, mas acha que os servidores são marajás, que não deveriam ter estabilidade e que custam muito ao Estado. Por que isso acontece?
Há décadas que os servidores publicado no Brasil são tratados de forma caricata pelas grandes corporações da mídia. Sobre esse trabalhador, uma grande parte mal remunerado e que trabalhado em condições precárias, celebrizou-se a figura do “Barnabé”, aquele que pendura o paletó na repartição no início do experiente e só retorna no final para retirá-lo da cadeira e levá-lo para casa. Collor se elegeu em 1989 com um forte discurso anti-servidor, com a imagem de que era o “caçador de marajás”. Depois, sob o governo FHC, o ministro Bresser Pereria, que depois viraria conselheiro nos governos petistas, implantou uma reforma administrativa conjugada com previdenciária que reduziu absurdamente o tamanho do Estado e a quantidade de servidores. Essa situação foi parcialmente revertida nos governos petistas, mas nunca houve da parte de Lula ou Dilma um interesse acentuado na valorização do serviço público e de seus servidores.
Se da parte dos governos o que tivemos foram ataques aos trabalhadores do serviço público, isso ocorreu porque o discurso das nossas classes dominantes, veiculados ostensivamente pela mídia, é o de que a máquina pública está inchada, pagamos muitos impostos e o funcionalismo é privilegiado. Ou seja, independentemente dos governos, esse discurso foi estabelecido como verdade.
Nessa altura, quando Bolsonaro e Guedes encaminham o maior ataque ao serviço público de que se tem notícia na história do país, temos muita dificuldade de dialogar com a população que não sabe que para ter escola, médico, limpeza, segurança, fiscalização, vigilância sanitária e tudo aquilo que um país sério, justo e democrático precisa, é necessário servidores em quantidade suficiente, com estabilidade e bem remunerados.
Sou filho de servidores públicos que estão longe das caricaturas oferecidas pela mídia e assumidas pela maior parte da população. Sou companheiro de uma servidora pública e irmão funcionários do Estado. Minha mãe não me deixou herança e meu pai, que felizmente está vivo e com muita saúde, e mora de aluguel, tem que economizar muito para ter algum conforto. O que tenho também foi conquistado com meu esforço e da minha companheira, que dedicamos parte importante das nossas vidas a retornar para a sociedade o investimento que ela faz. A maioria esmagadora dos servidores que me leem nesta postagem, tem histórias parecidas e estão longe daquele veiculado pela mídia.
Se você é trabalhador, paga impostos e quer bons serviços públicos, saiba que a reforma administrativa proposta pelo governo e apoiada pelos grandes veículos de comunicação vai piorar e muito a oferta de serviços pelo Estado. Se acha injusto a carga de impostos que paga, exija do governo que taxe as grandes fortunas e as heranças que enriquecem famílias até a quarta geração. Também exija que a alta cúpula do judiciário, que está fora da proposta de reforma, não ganhe acima do teto. É isso que é injusto, como é igualmente absurdo Bolsonaro aumentar os recursos para a defesa e oferecer inúmeros benefícios aos militares, reduzindo o orçamento da saúde e da educação. Pense nisso e defenda o serviço público.
Eu nunca tive experiência ruim com os Correios
Texto por Aline Passos
Esta afirmação não pretende falar por mais ninguém, é apenas minha experiência.
Sempre fui bem atendida, as coisas chegam certinhas ao meu endereço e não sofri atrasos significativos, muito menos ao ponto de causarem transtornos.
Não moro em zona privilegiada ou elitizada da cidade, tampouco moro na favela. Estou situada num bairro pobre, mas razoavelmente bem atendido por escola pública, posto de saúde e outros equipamentos sociais básicos. Recentemente, construíram uma avenida aqui perto que melhorou bem o bairro.
Então, mas como ia dizendo, sempre fui bem servida e bem atendida pelos Correios. Estou fazendo questão de declarar isso porque, ao contrário de mim, há quem faça da sua experiência ruim algo universal. Como naquelas reportagens, todas iguais, sobre greves, em que os repórteres, curiosamente, só entrevistam, bem rapidinho, pessoas que estão transtornadas pela ausência de um serviço e aquilo se torna a narrativa pública e oficial sobre como greve é ruim.
É basicamente isso: eu tenho uma excelente experiência com os Correios.
Um vizinho, aliás, é carteiro, e nós pegávamos ônibus juntos para ir trabalhar quando eu dava aulas de manhã cedinho. Sujeito bacana, trabalhador, mas que já não é jovem e eu não gostaria de vê-lo sem emprego, ainda mais quando sei que sempre desempenhou bem suas funções.
Durante a minha gravidez, recebemos muitos presentes aqui em casa. Alguns, vinham pelos Correios, e outros por entregadores “autônomos” que empresas como a Amazon utilizam. Nenhum presente que veio pelos Correios se perdeu. Já pelos outros meios…
É isso, experiência pessoal e intransferível, tanto quanto a de cada um ou cada uma aqui. Eu não pretendo universalizar a minha para “ganhar o debate” contra a privatização. Mas pretendo fazê-la valer contra as universalizações alheias.
Realmente, eu só tive boas experiências com os correios.
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Sobre Carlos Zacarias e Aline Passos
-Sou graduado em História pela Universidade Católica do Salvador (UCSal, 1993), mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA, 1998) e doutor também em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2007). Entre janeiro e setembro de 2006 estive na Universidade do Porto (UPorto), Portugal, realizando um estágio de doutorado como bolsista da CAPES e entre 2019 e 2020 estive na Universidade Federal Fluminense (UFF) realizando um pós-doutorado. Integro o Conselho Editorial das revistas Outubro, Crítica Marxista, História & Luta de Classes, Tempos Históricos, Germinal e Revista Nordestina de História do Brasil. Publiquei em co-autoria O Estado Novo: as múltiplas faces de uma experiência autoritária (Salvador: EDUNEB, 2008), Contribuição à crítica da historiografia revisionista (Rio de Janeiro: Consequência, 2017). Organizei o livro Capítulos de história dos comunistas no Brasil (Salvador: Edufba, 2016) e, como autor, publiquei Os impasses da estratégia: os comunistas, o antifascismo e a revolução burguesa no Brasil. 1936-1948 (São Paulo: Annablume, 2009), De tédio não morreremos: escritos pela esquerda (Salvador: Quarteto, 2016) e Foi golpe! O presente como história (Salvador, Quarteto, 20018. Sou professor Associado 1 do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia (PPGH-UFBA), onde também atuo como pesquisador no Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades (CRH).
(Texto da plataforma Lattes, informado pelo professor)
– Aline Passos foi professora na Faculdade Estácio de Sergipe (FASE) no curso de graduação em Direito. Coordenou, entre 2015 e 2016, a pós-graduação lato sensu em Direito Penal e Processo Penal na mesma instituição. Foi professora convidada na pós-graduação lato sensu em Direito e Processo Penal da Universidade Tiradentes entre 2013 e 2015. Possui graduação em direito pela Universidade Federal de Sergipe (2003) e mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2011), onde defendeu a dissertação “A disciplina carcerária na sociedade de controle: uma análise genealógica do Regime Disciplinar Diferenciado”. Entre 2012 e 2014 exerceu atividade docente no Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe.
Informações coletadas do Lattes em 25/06/2020