Desde o início, os trabalhadores caíram no debate errado sobre fechar ou não comércio, restringir ou não a circulação. De um lado, as pessoas entendem a gravidade da doença e sabem que deveríamos ter parado imediatamente tudo no momento que tínhamos noção da gravidade da Covid-19. Do outro, muito trabalhadores, especialmente os autônomos ou que são remunerados por produtividade, sentiram o peso de perder renda e não conseguir arcar com seus compromissos mensais. Colocando na balança, sabe quem está certo? Os dois. Não deveríamos colocar na balança. A discussão, desde o princípio, está equivocada e gera confusão, justamente para que a gente fique se opondo entre nós mesmos ao invés de combater e enfrentar quem deveríamos.
Se ambos os lados trabalhadores estão corretos, posso te garantir quem está errado: o Governo. Desde o início era para o Estado ter suprido as necessidades básicas da população e garantido a seguridade social neste momento. É inocência imaginar que obrigar um lockdown vai fazer o povo ficar em casa sem trabalhar e vendo os filhos passarem fome. É cinismo decretar fechamento de tudo sabendo que as pessoa não tem condições de se manterem em casa, sem paga contas, sem manter sua saúde, sem cuidar dos filhos. Em paralelos às medidas restritivas, os Governos (Estaduais, Distrital e Federal) deveriam ter traçado estrategias para uma crise prolongada, garantindo a segurança, bem-estar e a vida das pessoas. Não fizeram antes, não fazem agora e não pretendem fazer nunca. Os efeitos da crise não irão sumir depois da segunda dose da vacina. Enquanto vemos outros países criarem estratégias e implantarem ferramentas sustentáveis para retomar o desenvolvimento local na década seguinte à pandemia, aqui nem fizemos o básico que deveria ter sido feito antes do vírus chegar.
Podemos listar dezenas, talvez centenas de propostas para esse apoio aos trabalhadores e para a população, mas NADA, absolutamente NADA de expressivo foi feito, além do interesse esdrúxulo e político de um partirdarismo burguês.
As academias e profissionais de Educação Física estão sofrendo com a crise. O Governo poderia ter lançado plataformas e transmissões com fundos de financiamento para custear aulas remotas, assim remuneraria profissionais desempregados e ainda estimularia pessoas em casa a manterem sua qualidade de vida. Ao invés disso, o único recurso excepcional pro Esporte foi direcionado pra grandes clubes e confederações que ja nadam em dinheiros infindais, concentrando ainda mais riquezas.
Os restaurantes estão morrendo há mais de um ano e tentando se adaptar ao delivery. O governo poderia ter lançando aplicativos de entrega proprio pra ajudar os restaurantes e entregadores sem que eles deixem de 20% a 40% pro monopólio privado (como iFood) que só interessa aos acionistas estrangeiros. Isso, além de dar um respiro pra pequenos e médios comércios, reduziria o custo pra população que consome nestes meios. Sem contar que, se as proprias autarquias como o Sebrae, poderiam intervir para ajudar os comerciantes e pequenos negócios no enfrentamento da crise, por exemplo com a capacitação em estrategias digitais. Porém o que vemos é um privilégio exarcerbado pra que empresários coligados ao sistema apenas atuem como coach vendendo seus serviços a médios empresarios e lucrem como nunca num mercado elitista.
Há mais de um ano, escolas estão fechadas. E realmente devem estar! Mas é impressionante como não se moveu uma palha para ajudar os professores a remodelarem o ensino. Vejo meus amigos educadores se desdobrando pra gravar video, montar PPT, aprender a usar Classroom, fazer conteúdo interativo e toda sorte possível que não permita que os alunos abandonem de vez o ensino (o que me parece cada vez mais difícil). Mais de um ano! Não é possível que a porcaria do Ministério ou Secretaria de Educação não tenha a mínima competência pra alugar a merda de um estúdio e desenvolver aulas descentes, pelo menos pra basear os professores. Essa desgraça de governo consegue criar um filme nazista em dois dias gastando milhões com a atuação ruim de um ministro ou outro fazendo chacota com guarda-chuva, mas nao consegue produzir uma série de aulas com a mínima decência e compartilhar numa plataforma virtual? Não consegue fazer um aplicativo educacional, como muitas escolas particulares da classe média-alta fizeram em menos de mês da pandemia? Pelo contrário, durante a pandemia, os deputados do partido pirata RenovaBR estavam destacando no Fundeb verbas para iniciativas privadas, sendo que por coincidência, a presidência do Renova é de um dos maiores empresários da educação privada brasileira. No DF, os deputados do Novo e Republicanos, vem tentando aprovar leis para viabilizar que o ensino seja realizado pelas instituições privadas e pela igreja. Ou seja, durante a crise, ao invés de construirmos um ensino acessivel e público para todos e todas, esses oportunistas estão desviando o que podem para os interesses das classes dominantes e dos mais ricos, numa política altamente ideologica e exploratória.
Os governos necessariamente precisam de insumos, alimentos, materiais. Poderiam tranquilamente criar uma política de compra dos produtores locais, porém cada vez mais fecham mercado e priorizamvas grandes redes que exploram a mão de obra barata e precária. Se, minimamente, os governos comprassem das cooperativas da região, alem de gerar renda, iriam aquecer a economia, afinal esse trabalhador consome na padaria, na farmácia, no mercado do bairro, etc. Todos saem ganhando. Mas não, os governos burgueses sempre priorizam as grandes cadeias produtivas, aquelas cheias de acionistas que lucram contratando pessoas com subemprego, pegam o dinheiro e a essa altura estão gastando em alguma cidade que tem a pandemia mais controlada e prevê qualidade de vida.
Veja que até então sequer falei de auxílios ou isenções, mas que eu acredito serem fundamentais nesse momento. O Governo Federal (dando nome aos bois, o desgraçado do Bolsonaro) afirma que a preocupação dele é com o cara do churrasquinho que não vai poder trabalhar no lockdown. Cara de pau, teu governo sequer isentou o pagamento de DAS dos MEI. É algo irrisório pro orçamento do governo, mas que pesa pro contribuinte. Corresponde talvez a todas as passagens pro cara trabalhar ou metade do valor do gás no mês.
Outro argumento muito corriqueiro é: o país não tem dinheiro. Meu caro, o Governo Federal liberou R$ 1,2 Trilhões aos grandes bancos no início da pandemia, sem nenhuma contrapartida. Santander Itaú e Bradesco sequer emprestaram com juros a maior parte desse dinheiro novamente pro povo brasileiro. Ainda mais, dentro das suas próprias estruturas, cortaram custos, reduziram salários e demitiram trabalhadores. Mas outro ponto interessante, se esse governo tivesse a mínima descencia e intenção de colaborar, teria liberado integralmente nossos FGTS. O Fundo de Garantia é um fundo destinado para seguridade e emergência dos trabalhadores. É um dinheiro meu, que eu depositei, que está guardado no banco, pra uma emergência. Que kraleos é mais emergente do que a maior crise sanitária da história? Nem isso podemos sacar de verdade. O governo liberou apenas R$ 1.045 em mais de um ano de crise. Não estou nem falando do auxílio pra mim, estou falando do meu dinheiro. Agora vamos lá: se não foi liberado meu dinheiro para mim, que fosse destinado pras camadas que mais precisam na sociedade. Também não foi. O governo insiste em dizer que nao tem recursos. Então cade nossos fundos? Cade o dinheiro do trabalhador? Nada, zero. Insistem em financiar os grandes burgueses enquanto pobres trabalhadores morrem de fome.
Não tem justificativa, não tem sentido e não dá mais pra ficarmos brigando entre nós pelas coisas erradas. Sempre foi nós contra eles. Passou da hora de nos unirmos e lutarmos contra quem realmente é diferente de nós.