Dois dos assuntos mais comentados de hoje, destaques nas redes e nas mídias, foram narrados e criticados com precisão pela brilhante professora Kátia Gerab Baggio.
Sobre a pauta nacional, que envolve as pesquisas de popularidade do senhor que ocupa a Presidência, comentou:
Segundo pesquisas recentes — como a do instituto Datafolha —, a popularidade de Jair Bolsonaro cresceu nas últimas semanas, desde fins de junho. Um dos fatores apontados para esse crescimento das avaliações “ótimo e bom” teria sido o recebimento do auxílio emergencial por dezenas de milhões de pessoas sem renda, em situação desesperadora — é o caso, sem dúvida, da grande maioria, apesar dos milhares (ou talvez milhões) de recebimentos indevidos, por pessoas sem escrúpulos.
Kátia Gerab Baggio
Uma popularidade que cresceu a despeito dos mais de 100 mil mortos por covid-19.
Não podemos nos esquecer que Bolsonaro — mesmo levando-se em consideração as inúmeras manipulações e mentiras, antes e durante a campanha eleitoral — recebeu mais de 57 milhões de votos em outubro de 2018. E grande parte desses eleitores busca se convencer de que não cometeu um erro gigantesco ao apertar 17 na urna eletrônica. Como se sabe, admitir erros nunca é fácil.
Quem tem perspectiva histórica sabe que as mudanças vêm, inevitavelmente, ainda que permanências também sejam parte dos processos históricos.
Jair Bolsonaro e o fenômeno do bolsonarismo não durarão para sempre. O desgaste também será inevitável.
E para que a derrota de Bolsonaro (e do bolsonarismo) não tarde mais do que o Brasil é capaz de suportar — a destruição provocada por esse desgoverno, acrescida dos efeitos da pandemia, já é imensa —, a resistência tem que continuar e se fortalecer.
Como eu tenho escrito, a luta será longa e árdua. Mas todos os que prezam pela defesa da democracia, das liberdades, da diminuição das desigualdades e dos direitos sociais não têm alternativa a não ser a manutenção da luta e da resistência.
P. S.: Segundo dados da Caixa Econômica Federal, divulgados em 23 de julho, mais de 65 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial. Desconsiderar o impacto disso é ingenuidade.
Além dela, o professor Rodrigo Ratier também opinou, através de sua coluna no UOL:
O Brasil ultrapassa a marca de 100 mil mortos por covid-19, o assessor Fabrício Queiroz está preso, as investigações sobre o esquema de “rachadinhas” se aproximam do gabinete do ex-capitão, o antes execrado Centrão é hoje o fiador do governo, o desemprego é recorde, o ídolo Donald Trump periga perder a eleição. No entanto, Jair Bolsonaro está com a melhor avaliação desde o início do mandato, informa o Datafolha.
Rodrigo Ratier
O auxílio emergencial explicaria a subida entre os mais vulneráveis, estrato demográfico de grande peso na população. No entanto, há movimentos mais silenciosos a apontar para uma “repaginação” na imagem do presidente.
No WhatsApp bolsonarista, o “banho de loja” aponta em duas direções. A primeira é a tentativa de conciliar a cooptação fisiológica do Centrão com o discurso antissistema. Os movimentos de Bolsonaro são apresentados como “estratégicos” e “inteligentes”. Deputados e senadores da tropa de choque — justamente os mais compartilhados nos grupos — são duramente criticados.
Contraditório? Estudos das antropólogas Isabela Oliveira Kalil, da Fepesp, e Letícia Cesarino, da UFSC, ressaltam o caráter “fractal” da comunicação bolsonarista. O conteúdo que circula no WhatsApp da militância “desce” para os grupos particulares de forma segmentada. Cada parcela da população que apoia o presidente possui, assim, uma imagem diferente do ex-capitão.
A segunda linha discursiva diz respeito à pandemia. Com malabarismos retóricos e muita desinformação, tenta-se passar a conta dos 100 mil óbitos ao isolamento social, caracterizado como “experimento chinês” encampado pela Organização Mundial da Saúde. O argumento é de que Bolsonaro estava certo no enfrentamento ao coronavírus. Mortes e desemprego seriam responsabilidade de “governadores e prefeitos assassinos”. Com a defesa da hidroxicloroquina, Bolsonaro tenta “salvar o restante da população”.
Sobre os abusos cometidos em Minas, por Zema e sua polícia despreparada, a professora Kátia fez os seguintes comentários, em sequência:
A Polícia Militar de Minas Gerais executou (ontem e hoje) uma ordem de reintegração de posse da massa falida da Usina Ariadnópolis, ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) há 22 anos.
Post de ontem, antes das barbaridades ocorridas;
Segundo informações que constam na matéria do “Repórter Brasil”, “o acampamento Quilombo Campo Grande foi criado em 1998, quando os trabalhadores da Usina Ariadnópolis, que falira dois anos antes, decidiram ocupar a área, pois afirmam não terem recebido as indenizações trabalhistas e passaram a viver do cultivo da terra. […] hoje são 450 famílias acampadas na antiga área da usina. Cada família tem em média oito hectares de terra e a maioria não usa agrotóxicos e nem sementes transgênicas. Um orgulho dos acampados é o café orgânico Guaií.”
O “governador” de Minas Gerais, Romeu Zema, poderia ter ordenado a suspensão da reintegração de posse, em meio à pandemia, mas não o fez.
Zema é do Partido “Novo”, que de novo não tem nada. É o partido das velhas oligarquias e do capitalismo predador.
Sem esquecer que Zema é aliado de Jair Bolsonaro.
P. S.: O nome da escola (agora demolida) era Escola Popular Eduardo Galeano, uma homenagem ao escritor e jornalista uruguaio falecido em 2015.
P.S. 2: Mas não se pode esquecer que a ordem de reintegração foi do juiz da Vara Agrária de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.
P.S. 3: A ação de reintegração de posse continua acontecendo nesta sexta, dia 14. E os trabalhadores continuam resistindo.
Não deu. Tiraram nosso povo.
Compartilhado de um colega de Kátia, Pedro Alexandrino Martins
A PM de Zema está nesse momento destruindo as casas e a lavoura do Quilombo. Solidariedade ao MST.
Mais um crime contra a população trabalhadora do campo.
Hoje, após a brutal repressão;
A responsabilidade é do Judiciário e do “governador” de Minas Gerais, Romeu Zema, do Partido “Novo”.
Para isso, deram o golpe em 2016. Para isso, criminalizaram o PT e as esquerdas. Para passar o trator por cima da escola do MST, para destruir as lavouras de famílias que vivem nessas terras há 22 anos, terras de uma empresa falida em 1996, que não pagou o que era devido aos trabalhadores rurais.
Qual o destaque que os veículos da “grande” mídia deram, hoje, à violência utilizada pela PM de Minas Gerais na reintegração de posse em Campo do Meio, no sul do estado?
Ainda em 14/08, após a violência cometida – VEJA NOSSO CONTEÚDO COM OUTRA OPINIÃO SEMELHANTE SOBRE A GRANDE MÍDIA
Não houve nenhum destaque nas edições digitais da Folha de S. Paulo, UOL, O Globo ou G1.
Apenas algumas notícias nos jornais de Minas, sem denúncias contundentes à violência da PM na ação, com o uso da expressão “confronto”.
Alguma informação sobre a produção agroecológica, sem uso de agrotóxicos (de café, hortaliças, frutas e cereais), nas terras do Quilombo Campo Grande, do MST? Nada. Ou quase nada.
Sobre essa produção, segue matéria do Brasil de Fato, de novembro de 2018:
https://www.brasildefato.com.br/…/conheca-o-cafe-guaii-e-a-…
Mas o agro não é pop, não é tudo? Ah, mas o agro também é tech.
A campanha da Rede Globo é só para o agronegócio. A produção agrícola dos assentamentos e acampamentos do MST não interessa.
A função social da propriedade não interessa.
A imprensa corporativa é isso mesmo: uma imprensa de negócios.
Notícias sobre a ação da PM em Campo do Meio, sul de Minas, de ontem à noite.
Hoje, 15/08 – Atualizado – Deputado André Quintão via Marta Rovai
POST COMPARTILHADO:
NOTÍCIAS DO QUILOMBO CAMPO GRANDE: DESPEJO ENCERRADO!
Estamos saindo neste momento do Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio. Conseguimos fechar um acordo com o Comando da Polícia Militar no sentido de que a PM não vai mais avançar em outras áreas e amanhã se retirem do local. Infelizmente, seis famílias foram desalojadas e a escola destruída. Viemos, eu, os deputados Rogério Correia, Odair Cunha, a deputada Beatriz Cerqueira e o deputado Ulysses Gomes.
Conseguimos apaziguar o clima e quero parabenizar as famílias que resistiram bravamente, esperando que elas tenham agora uma noite mais tranquila e retomem suas vidas a partir de amanhã. Queremos agradecer, também, toda essa corrente de solidariedade que se formou em torno desta decisão absolutamente repugnante, de ataque às famílias e despejo em meio a uma pandemia. Toda a mobilização foi fundamental!
Deputado André Quintão
#DespejoZero #QuilomboResiste
Importante destacar que há 4 pessoas presas e algumas machucadas, pois o processo foi violento.
Hoje, 15/08 – Atualizado
– Kátia Gerab Baggio Possui Bacharelado (1986) e Licenciatura (1986) em História pela Universidade de São Paulo (USP), Mestrado (1992) e Doutorado (1999) em História Social, também pela USP. É Professora Associada 4 do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde leciona desde 1994. Na UFMG, coordena o Núcleo de Pesquisa em História das Américas – NUPHA (fundado em 2017), e participa do Projeto Brasiliana: Escritos e Leituras da Nação, coordenado pela Profa. Dra. Eliana de Freitas Dutra. Foi professora visitante, através do Programa Escala da AUGM, na Universidad Nacional de Tucumán (UNT) (2007), Universidad Nacional de La Plata (UNLP) (2008 e 2013), ambas na Argentina, e Universidad de Santiago de Chile (USACH) (2011). Foi presidente da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC), gestão 2000-2002, e vice-presidente da mesma Associação (gestão 2014-2016); coordenadora do Curso de Graduação em História da UFMG (dez. 2001- jan. 2006); coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG (2010-2012) e vice-coordenadora do mesmo Programa (2016-2017); chefe pro tempore (2014) e vice-chefe (2006-2009 e 2014-2016) do Departamento de História da UFMG. Realizou os seguintes estágios de Pós-Doutorado: no Departamento de História da USP (2009-2010), sob a supervisão da profa. Dra. Maria Ligia Coelho Prado; no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), sob a supervisão da profa. Dra. Angela de Castro Gomes (agosto 2017-fevereiro 2018); e junto ao Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe (CIALC) da Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM (março-junho 2018), sob a supervisão da profa. Dra. Regina Crespo. Atua na área de História, com ênfase em História Latino-Americana e Caribenha nos séculos XIX a XXI, trabalhando principalmente com as seguintes temáticas: História Intelectual na América Latina; circulação de ideias, intercâmbios e viagens intelectuais entre Argentina, Brasil e México; latino-americanismo; pan-americanismo; nacionalismos; neoliberalismo na América Latina; direitas ultraliberais nas Américas; Caribe Hispânico Insular; identidades e alteridades.
(Texto informado pela professora, reproduzido da plataforma Lattes)
– Rodrigo Ratier é professor do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (SP) e pesquisador pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisas (CIP) da mesma instituição. Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (FE-USP), com participação no Programa Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, fomentado pela CAPES, na Université Lumière Lyon 2. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização Contemporâneas (GPS-FEUSP). Blogueiro de educação no UOL. Possui experiência na área de Educação, com ênfase em Sociologia da Educação, e em Comunicação, com ênfase em Jornalismo de Educação, edição de revistas e jornalismo digital.
(Texto informado pelo professor, reproduzido da plataforma Lattes)
EXTRA: Vídeos sobre a pesquisa de popularidade:
Posts originais: