O pós 7 de setembro, data em que o presidente Jair Bolsonaro prometeu “libertar o país” dos fantasmas que habitam sua caixola, vem se mostrando uma duradoura quarta-feira de cinzas.
Com o fracasso do golpe que, à luz dos fatos, já ninguém ignora que categoricamente tentou impor ao país, as medidas de contenção de danos tiveram que ser acionadas a toque de caixa da forma como foi possível.
Na ressaca da micareta fascista, a primeira tarefa foi tentar remover o entulho golpista que ainda insistia em permanecer e obstruir a esplanada dos ministérios entre uma tentativa e outra de invasão a algum prédio ministerial.
O serviço de caçamba de lixo ficou por conta de alguns deputados da base aliada que, junto ao gado, garantiu que o melhor a fazer era que todos voltassem para casa porque, afinal, o mito sabia o que estava fazendo.
A muito contra-gosto o rebanho retardatário retornou às suas respectivas baias.
Mas isso era só o início do dia.
Não tardou para que o inquilino do palácio do Planalto tivesse que jogar um balde de água fria para amainar a testosterona dos caminhoneiros do “Agro é pop”.
O áudio emitido pelo presidente para que os bloqueios rodoviários fossem desmontados criou uma cena dantesca que transitou com uma desenvoltura assombrosa entre o trágico e o cômico.
Enquanto os mais eufóricos juravam que a mensagem que chegava aos seus ouvidos não passava de uma peça de chanchada pornô, os que sentiram a lama bater no pescoço começaram a desconfiar que não haveria boleia de caminhão suficiente para salvar a todos.
Foi aí que o tal Zé do Trovão, que a essa altura já emporcalhava o céu azul do caribe mexicano, começou a desconfiar que havia feito papel de trouxa.
Após dezenas de vídeos publicados que fariam Bartô Galeno chorar de remorso, chegou à fria conclusão que a Polícia Federal logo bateria à porta do seu quarto de hotel pago logo saberemos como e por quem.
Mas o pior ainda estava por vir para a massa bovina.
Enquanto o clima de fim de feira reinava sobre os “cidadãos de bem”, a marretada final entre os cornos veio com uma nota presidencial capaz de fazer o touro sentado deitar de agonia.
Eis que o poderoso mito arregava quase que implorando perdão justamente para o inimigo nùmero um do grande fazendão boiadeiro.
Numa carta cafona e insossa cuja assinatura não poderia ser de outra autoria senão do golpista mor da República, Temer dá à voz que gagueja de Bolsonaro a força de que necessita para dizer, em outras palavras, que: “borrei-me-ei-me”.
Comédia à parte, aqui Bolsonaro se viu obrigado a cometer um ato de sobrevivência que a bem da boa comparação, seria como um náufrago agarrar-se a uma pedra para ver se chega boiando até à praia mais próxima.
Neste exato momento o mais entusiasta dos bolsonaristas se viu como um palerma que deu tudo que tinha, arriscou sua liberdade individual, brigou com família e amigos e, agora, viu seu presidente machão e imbroxável virar as costas e ir pedir penico para os inimigos de Deus, da pátria e da tradicional família brasileira.
Daí que agora as redes sociais dos deputados e senadores bolsonaristas são uma lamúria só. Um misto de ódio e decepção direcionados àquele a quem tanto acreditaram e se doaram.
Até animais irracionais, depois de muito levarem chicotadas, sabem em algum momento que não dá mais para pastar em certos campos.
Bolsonaro chegou ao ponto em que muito provavelmente, pela primeira vez, abalou o seu núcleo duro de apoio.
Na tentativa de salvar os dedos já que os anéis já se foram há tempos, pode ter decepado um braço inteiro.
Convém esperar as próximas pesquisas eleitorais.
O gado poderá mugir em outro curral.