Minha alfabetização foi com ficção científica. Acho até que eu poderia ser astronauta, de tanto que eu viajava pelo espaço nas letras e na imaginação. Quando vinha a noite, eu me deixava ficar à janela, espiando o céu, esperando estranhos visitantes. Mas, por fim, o jornalismo falou mais alto, provavelmente por conta do exemplo do pai, sempre atucanado com seus gravadores e microfones.
O fato é que cresci lendo Isaac Asimov e os livrinhos que contavam as histórias de Perry Rodan. Eu era alucinada com eles e cheguei a ter mais de 200 números. Também assinava a revista UFO, que chegava indefectivelmente todas as quartas-feiras pelo correio. Eu tinha completa certeza de que o espaço continha muito mais do que as estrelas, era repleto de outras civilizações, e outros seres fascinantes.
Por isso, quando a televisão brasileira começou a passar a série Jornada nas Estrelas, eu estava lá, no sofázinho vermelho. Vidrada. Podia estar rolando a maior bagunça na rua, mas quando chegava a hora do seriado eu corria pra dentro, grudando os olhos nas aventuras da U.S.S Enterprise. Obviamente meu preferido era o Sr. Spock, porque não era humano, mas reunia em si o que de melhor se pode esperar de alguém. Apesar da aparente frieza, era generoso, leal, amigo. E as aventuras da Enterprise pelo espaço seguiam os meus próprios roteiros, porque eu também imaginava que os extraterrestes poderiam ser amigos e a gente poderia conviver em paz e harmonia com outras criaturas.
Assisti toda a série e, depois, quando não passava mais eu a tinha gravada nas fitas cassete. E minha alegria maior foi o dia em que ganhei as três temporadas em DVDs, aos quais eu voltava a cada tanto. O espaço, a fronteira final. Também assisti a todas as outras versões que vieram depois, bem como os filmes com a equipe original e os da nova geração. Sou uma amante fiel. Choro cada vez que vejo e revejo a última aparição de Leonard Nimoy num dos filmes do grupo quando jovem…
A série cumpriu esse ano 55 anos de existência, e continua até hoje me encantando. Cada vez que revejo os episódios encontro algo novo, me emociono, rio, me encho de ternura. E vou amealhando os novos personagens que vão surgindo, como o inesquecível Data, o cyborg mais adorável da nova geração, ou então o doce e apaixonante Saru, da Discovery.
Nestes dias tristes do Brasil bozificado, eu me permito um pouco de alienação e volto a me internar no universo das Jornadas das Estrelas, buscando no espaço um pouco de ar para respirar. Penso que quando eu me for desta pra melhor, certamente encontrarei a Enterprise, com Spock, Data e Saru e vamos ficar voando pelo infinito, encontrando outras moradas.
Passe o tempo que passar eu seguirei amando essa primeira tripulação! E ao Gene Rodenberry, por a ter criado…