A mim, faltam palavras.
Mas, ouso dizer, não sou só eu. Faltam palavras a todos que querem falar sobre o Brasil de hoje, mesmo os mais talentosos.
Como descrever o governo, os ministros, o presidente, o espetáculo diário de estupidez, grossura, descaramento e canalhice a que o país é submetido?
Falei “estupidez”, mas estúpido é o Homer Simpson. Pazuello é outro nível.
Falei “grossura”, mas grosso é o Shrek. Carluxo é outro nível.
Falei “descaramento”, mas descarado é o Dick Vigarista. Paulo Guedes é outro nível.
Falei “canalhice”, mas canalha é a Odete Roitman. Bolsonaro é outro nível.
Podia falar “bandido”, “incompetente”, “sórdido”, “desprezível”, “abominável”, “irresponsável”, “desqualificado”… Nada alcança Bolsonaro e seu governo.
Mesmo “genocida”, a palavra que meses atrás tentaram vetar, foi pouco a pouco perdendo força, já que nos sentíamos impelidos a empregá-la sempre, como única maneira de exprimir a catástrofe. Não vai me espantar se, daqui a pouco, a extrema-direita alucinada resolver reivindicá-la para si (como fez, por exemplo, com “opressor”) e desfilar, feliz, vestindo camisetas com os dizeres “Bolsonaro genocida”.
Falar sobre o Brasil é o exercício permanente de expressar uma indignação que sempre soa pequena diante dos fatos que a geram.
Que palavras, afinal, fariam jus aos nossos 450 mil mortos, ao boicote de todas as medidas sanitárias e de proteção social, à aposta permanente na mentira e no ódio, ao projeto de destruição de um país e de seu povo?
Mas ainda posso me considerar sortudo. A mim, por enquanto, só me faltam as palavras, enquanto a tantos falta o ar.