Publicado pela primeira vez em 1978, o livrinho de contos de Roniwalter Jatobá, Crônicas da vida operária, editado agora pela Lazuli, fica cada dia mais atual. É sobre a vida miserável de trabalhadores da indústria, sempre esfolados pelos capatazes, sempre aguardando a próxima demissão. Em meio ao cansaço e ao desânimo, à fofoca nos banheiros e à expectativa de uma vida melhor, eles vão tocando os dias, que grudam uns nos outros, sem folga.
Em poucas páginas, com relatos breves e linguagem exata, o autor abre os portões e nos coloca para dentro da fábrica, acompanhando a perspectiva dos operários, sentindo seus calos, a dor nos músculos no final do dia, a vontade de fazer um serviço bem feito. É quente, é barulhento e conturbado, é desgastante, mas a gente se pega sorrindo com eles, como sorrimos ao ouvir o Lula falar de seus tempos de chão de fábrica.
E isso não é por acaso, Roniwalter Jatobá também foi operário e também tem domínio sobre as palavras. A experiência e o convívio com possíveis futuras personagens certamente não são suficientes para se escrever boa literatura, mas em mãos talentosas permitem a construção de uma representação menos convencional, mais cheia de vida, além de nos oferecer uma aproximação a existências que costumam estar pouco presentes em nossa literatura, e em nosso imaginário, embora não passemos um minuto sequer sem o produto de seu trabalho.