A desumanização televisionada à exaustão da caçada ao Lázaro, e seu desfecho previsível nos falam muito desse Brasil que se locupleta com a morte, do « bandido bom é bandido morto ». Lázaro precisava ser detido, sem dúvida, pois era um assassino confesso com inúmeros crimes hediondos. E há ainda muito a esclarecer acerca de suas relações perigosas com as elites locais, se era ou não um jagunço ou matador de aluguel cuja delação produziria estragos.
Mas a mobilização de recursos e da mídia me pareceu desproporcional. As imagens de sangue e regozijo que circulam nas redes são o gozo com o horror da barbárie. E assim vai se moldando o medo social e a naturalização desse estado de coisas como solo da submissão das pessoas. Bem como um imaginário de heroísmo das forças da lei que pouco corresponde à realidade brasileira com exceções, claro. Isso é o que nos mostra Manso e seu livro fundamental, a República das Milícias. Na vida real, há milhares de assassinatos e chacinas sem qualquer investigação consistente. Há valas comuns de corpos desaparecidos. Há o tráfico de armas de uso exclusivo das mesmas forças da lei e com participação de sua banda podre. Frente a isso o que justifica o espetáculo e o alívio de menos um bárbaro à solta ? O que justifica o espetáculo de flexões, carreata e fogos em comemoração ao fim de vinte dias de pânico, com 38 tiros? Uma postura de quem não quer justiça mas vingança.
Na verdade, o conjunto da situação me produz uma imensa tristeza e inquietação sobre o futuro deste grande país apequenado, corroído por ilusões enraizadas, pelo individualismo, o racismo, o machismo, o esmaecimento dos afetos e, ao fim e ao cabo, pela violência endêmica. Não há nada a comemorar, e há muito a se fazer e mudar.