A ação contra a estátua de Borba Gato nos faz refletir sobre o papel dos militares no genocído da população negra no Brasil. Duque de Caxias, o patrono do Exército brasileiro, era um notório torturador e defensor da escravidão. O patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo é Tobias de Aguiar, que se destacou no século XIX na captura de escravos que fugiam das fazendas. A ROTA, um dos esquadrões responsáveis por diversas chacinas e execuções extrajudiciais, nada mais é do que a abreviatura de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar…
Essas homenagens não têm qualquer sentido pedagógico. Não foram feitas com o propósito de explicar a história do Brasil. Exaltar essas figuras, por meio de monumentos que as apresentam de forma altiva, é algo completamente diferente do trabalho de um historiador comprometido com a interpretação da realidade. Mais ainda: apesar dessas homenagens terem um caráter simbólico, elas produzem efeitos reais, porque legitimam um conjunto de regras e comportamentos. Basta pensarmos que a homenagem feita por Bolsonaro a um torturador da ditadura foi interpretada por muitos agentes do aparelho repressivo estatal como uma espécie de cheque em branco para seguir violando os direitos humanos fundamentais.
Borba Gato, Caxias, Tobias de Aguiar, Carlos Alberto Ustra e tantos outros eram e continuam sendo inimigos do povo brasileiro. E toda vez que a Polícia ou o Exército procuram defender esses símbolos, outros tantos tiros de verdade continuam sendo disparados contra os nossos irmãos.
“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” (O Rappa).