Já virou clichê constatar, mas não cessa de impressionar o desprezo completo de Bolsonaro pela cultura brasileira. Infelizmente, nunca imaginei que figurões da universidade brasileira recentemente falecidos (Alfredo Bosi, Francisco Weffort, Giannotti, Wanderley Guilherme dos Santos) seriam homenageados com qualquer mensagem mínima de afeto póstumo. Apesar de grande parte dos Estados tratarem seus principais intelectuais como patrimônios nacionais, a aversão de Bolsonaro à inteligência, sempre suspeita de comunismo apenas por exercer livremente o pensamento, é algo evidente.
No entanto, o que explicaria ignorar a morte de Tarcísio Meira, um dos nossos maiores atores, como ocorreu hoje? Sempre achei que a figura estava acima de qualquer paixão ideológica, sendo celebrada por todos, desde a vovó noveleira até o jovem descolado curioso pela história do cinema brasileiro. Tive o mesmo espanto na ocasião da morte — também ignorada — de João Gilberto. Talvez Bolsonaro considere que o recém falecido seja suspeito de simpatias subversivas só por ter sido da Globo ou simplesmente não se importe com nossa dramaturgia, sei lá.
De qualquer forma, o que se expressa nestes momentos tristes vai além do “mero” desprezo à intelectualidade crítica, algo que é típico da extrema-direita. Trata-se de uma verdadeira concepção mafiosa de mundo: só gosto de quem joga no meu time, isto é, de quem me apoia de forma explícita e sem qualquer vacilação. Por isto, homenagem carinhosa para o MC Reaça, um insignificante total para o hip hop nacional, mas nenhum elogio a quem não demonstre simpatia aberta pelo infausto presidente, mesmo que o falecido seja um grande personagem da história brasileira.