Por que eu sou contrária ao retorno das aulas presenciais nas escolas agora

Por Esther Solano

Por que eu sou contrária ao retorno das aulas presenciais nas escolas agora – Por Esther Solano

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Esther Solano – Foto reproduzida da internet: Reprodução/Facebook
A opinião da professora se aplica, obviamente, ao contexto atual da pandemia de COVID-19;

“Prudência é saber distinguir as coisas desejáveis
das que convém evitar”

CÍCERO

100.000 mortos.
Este número deveria ser suficiente argumento, mas parece que no Brasil o número de mortos nunca é suficiente argumento.
Este ano é sobrevivência. Este ano a luta é por não morrer. Pronto.
As escolas não estão preparadas para evitar contágios. As crianças se contagiam, sim, levam o vírus para casa e os adultos e idosos podem morrer. Aliás, crianças também poderão morrer.
Mas não é só sobre crianças, é sobre outra figura, invisível, abandonada, o professor. Professores que estão lutando por manter a dignidade de seu trabalho em condições tão precárias. Eles podem morrer e morrerão se abrirmos as aulas.
Sei que as crianças estão sofrendo, regredindo na sua evolução pela ausência de sociabilidade. Bem, pensemos sobre isso, tentemos alternativas, possibilidades dentro de casa, admitamos que está tendo sofrimento, que terá renúncias, imensas às vezes, e trabalhemos com isso.
Cobremos das autoridades planos de emergência. As crianças perderão muito em termos pedagógicos por ficar em casa. Mas ganharão a vida. Está tendo angústia, exaustão, dor, dentro das famílias, mas, repito, este ano, se trata de sobreviver.
Meu bebê nasceu em pleno auge de pandemia na Espanha com um sistema de saúde colapsado. Sobreviver é a meta.Cobremos do governo. Cobremos dos partidos que nos representam. Cobremos responsabilidade, civilidade. Cobremos melhores conexões de internet. Cobremos do vizinho e do colega que nunca colocam a máscara.
Há muitas famílias que não conseguem cuidar de suas crianças dentro de casa porque os pais estão obrigados a sair para trabalhar. Pobre não tem direito à quarentena. Isolamento social é privilégio num país como Brasil. Insistamos em desfazer essa dicotomia atroz vida/economia. Insistamos na renda minima emergencial que permita às famílias mais vulneráveis cuidar de sua saúde e ficar em casa com as crianças. Cobremos planos emergenciais para as mulheres e crianças que sofrem violência dentro de casa.
E sobre tudo, cuidemos um dos outros. Quarentena não tem que significar solidão. Tentemos estar próximos virtualmente. Choremos juntos. O carinho online também é carinho. Mas, por favor, morrem mais de 1000 pessoas por dia no Brasil, deixemos as crianças em casa.


EXTRA: Às bases, falar sobre Saúde, Emprego e Renda

Revogue as barreiras alfandegárias do discurso - Instituto Mercado ...

Acho muito importante nossa posição como antifascistas, mas…se quisermos que a frente anti-Bolsonaro chegue com força nas classes populares não podemos ficar restritos a este termo. Nossas pesquisas são claras sobre isso, o conceito fascismo não dialoga com a maior parte das pessoas de menor renda. Essas pessoas que estão morrendo pelo Coronavírus, ficando desempregadas e desesperadas. Nesse contexto dizer a elas que devemos tirar Bolsonaro do poder porque ele é fascista não faz sentido. Falemos sobre saúde, sobre SUS, sobre auxílio emergencial, planos de emprego. Para quem tem medo de não poder alimentar seus filhos o fascismo está longe demais e a fome perto demais.


– Esther Solano possui Mestrado em Ciências Sociais – Universidad Complutense de Madrid (2009) e doutorado em Ciências Sociais – Universidad Complutense de Madrid (2011). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo no curso de Relações Internacionais, professora do Mestrado Interuniversitário Internacional de Estudos Contemporâneos de América Latina da Universidad Complutense de Madrid e no Mestrado América Latina e a União Europeia: uma cooperação estratégica, Instituto Universitario de Investigación em Estudios Latinoamericanos, Universidade de Alcalá de Henares. Tem experiência na área de Sociologia, com o tema principal de sociologia política. Conselheira do Instituto Vladimir Herzog. Colunista da Carta Capital;
(Texto informado pela professora, reproduzido da plataforma Lattes)


Posts originais:

https://www.facebook.com/esther.solanogallego/posts/10158628504899901

https://www.facebook.com/esther.solanogallego/posts/10158429873054901