Derrotado na eleição presidencial de 1994 após chegar ao segundo turno pela segunda vez, o PT criou o que chamou de “governo paralelo”. Tratava -se de uma iniciativa que pressupunha a elaboração de uma agenda positiva de fiscalização e construção de uma alternativa ao governo de FHC, vitorioso em 1994, uma forma encontrada pelo partido de oposição para se manter nos holofotes e chegar em 1998 em condições de disputar à presidência.
Pode-se questionar se a iniciativa deu certo, mas ninguém pode apontar sordidez no projeto. Oposição, nas democracias, exite para… fazer oposição. Contudo, nunca se viu um governo que trabalhasse contra ele próprio, como vemos agora sob o bolsonarismo. Em matéria publicada pela Folha de São Paulo hoje, somos informados da existência de um “Ministério da Saúde paralelo”. Mas aqui não se trata de nenhuma estrutura inventada por partido de oposição, mas por pessoas muito próximas do presidente, certamente com a anuência do próprio chefe do governo, com a incumbência de apresentar alternativas, digamos, heterodoxas e por fora daquilo que pareceria razoável, porque o conspiracionismo é componente essencial do bolsonarismo, ainda mais quando se sabe que o que vai se fazer é coisa errada e fora da lei.
Na matéria da Folha conhecemos essa pasta paralela que se reunia, pasmem vocês, no próprio Palácio do Planalto. Composta por Carlos Bolsonaro, Fabio Wajngarten, Osmar Terra, Nise Yamaguchi e Tércio Arnaud, o grupo se reuniu pelo menos 24 vezes desde o início da pandemia, sempre articulado com o chamado Gabinete do Ódio, onde atuam também o filho 02 do presidente (Carluxo) e Tércio Arnaud.
Não se sabe ainda que papel teriam Arthur Waintraub, Carlos Wizard e Felipe Martins nessa articulação encarregada de tentar empurrar goela abaixo dos brasileiros a hidroxicloroquina, a azitromicina e outras drogas ineficientes como tratamento precoce da Covid-19. Também não conhecemos os planos de promoção da “imunidade de rebanho” pela contaminação, que é um dos aspectos centrais da condução da pandemia pelo bolsonarismo, e nem o papel que esse coletivo teve na promoção de Fake News sobre as vacinas. Contudo, a confirmação da existência desse Ministério Paralelo demonstra que Bolsonaro e a ala ideológica do seu governo pretendiam trabalhar driblando as naturais dificuldades com os técnicos e os servidores públicos de carreira, posto que a movimentação da máquina governamental não podia prescindir da burocracia como um todo para não ficar paralisada por completo.
Enquanto na linha de frente milhares de profissionais (cientistas e servidores públicos de carreira) davam duro para tornar eficiente o combate à epidemia, nos bastidores o próprio mandante conspirava junto com o Ministério Paralelo para sabotar as iniciativas articuladas por governadores e prefeitos junto com autoridades sanitárias. Faziam isso tentando pôr em prática planos mirabolantes, atentando contra a legislação e, principalmente, contra a saúde dos brasileiros. Os 460 mil mortos dão uma ideia de qual setor se saiu melhor até o momento.
Não é possível debelar a pandemia e voltar à normalidade enquanto Bolsonaro governar. Por tudo isso, os que puderem, vamos encher as ruas no dia 29 e gritar com força #ForaBolsonaro!