Encerrada a inquirição do ex-ministro Ernesto Araújo por parte do relator da CPI da Covid ficou patente, do modo como eu vejo as coisas, a fragilidade intelectual de Renan Calheiros.
A estratégia de abordagem mais produtiva para o esclarecimento do que está em questão sequer foi percebida por Renan. Refiro-me a ideologia de extrema-direita que sempre presidiu toda a ação do Executivo e de muitos dos seus ministérios.
Em sua fala inicial, Ernesto Araújo fez questão de reafirmar o engajamento ideológico de sua atuação frente ao Ministério das Relações Exteriores, deixando aberto um flanco que Renan, por estultice, não soube explorar.
A estratégia da CPI deveria partir da constatação de duas obviedades, a saber:
(a) a ideologia de extrema-direita tomou uma posição muito clara frente à pandemia, em diversas áreas, seja quanto a medicamentos, seja quanto a medidas de restrição de mobilidade social, seja quanto à credibilidade da OMS, seja quanto a adesão à ideia da “imunidade de rebanho” etc.
(b) o governo Bolsonaro abraçou clara e decididamente o ideário da extrema-direita também no enfrentamento da pandemia, age coerentemente.
Diante dessas duas constatações, a estratégia que a CPI deveria adotar seria investigar se as medidas do governo Bolsonaro orientadas pela ideologia de extrema-direita agravaram os efeitos da pandemia da Covid entre nós.
As evidências são de que, sim, a orientação de extrema-direita por parte do governo agravou dramaticamente os efeitos são gritantes.
Esse é o busílis, essa seria a estratégia…
PS
O problema não é diretamente a ideologia, são as medidas que agravaram os efeitos da pandemia. Cabe à CPI provar que houve responsabilidade por parte do governo, uma espécie de “genocídio culposo”. A forma de fazer a relação entre os feitos da pandemia e as ações do governo, que é o “fato determinado” da CPI, está na ideologia do governo. Esse é o busílis.
