Sobre a entrevista de Lula à Rede Bandeirantes

Por Gabriel Veloso

Sobre a entrevista de Lula à Rede Bandeirantes – por Gabriel Veloso

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Imagem: reprodução da internet

Aparentemente institucionalizaram oficialmente — com a entrevista com Reinaldo Azevedo — a candidatura do Lula hoje e muito que bem, meu rabo de servidor público de classe média agradece, e acho que é um suspiro de alívio pra muitos.

Como já era de se esperar, ele vai perseguir uma agenda de centro-esquerda social-democrata, compatível com a consciência média do trabalhador urbano e rural brasileiro e com os interesses da burguesia e do capital estrangeiro, como fez em seus governos anteriores. Nada de surpreendente, afinal, não estaria prestando essa entrevista se assim não o fosse. O apoio dos setores de centro-direita ainda é vacilante, pois que prefeririam escolher seu próprio candidato, mas no fim tudo que eles querem é um país estável e minimamente funcional, afinal, toda essa maluquice que anda ocorrendo não é bom para os negócios — nem para a imagem externa.

E aliás, Lula também parece ter o amplo apoio do capital estrangeiro, que também preza pela estabilidade. Afinal, pra quê dar golpe quando não se tem quase nenhuma mobilização que ameace o capital estrangeiro? Mó trabalhão. Jogue-se algumas migalhas aos progressistas, é mais fácil: de quebra, previne-se a radicalização da esquerda!

É neste contexto que gostaria de transcrever um trecho de “Anti-Dimitrov”, de Francisco Martins Rodrigues, que tenho lido. O autor critica a linha de submissão dos partidos comunistas aos partidos social-democratas, que segundo ele teria tomado forma após o 7º Congresso da Internacional Comunista, antes da Segunda Guerra em 1935, que renunciariam sua hegemonia no movimento antifascista em prol de uma suposta unidade para o prevenção e combate do fascismo, linha que tem sido adotada em grande escala pelos PCs desde então:

“[…]O que é significativo é que Dimitrov, forçado a criticar a social-democracia, neutralizou essa crítica sob uma avalanche de argumentos conciliatórios, que funcionaram como uma oferta de compromisso.

Veja-se a crítica aos partidos social-democratas por não terem aproveitado a sua passagem pelo governo (na Alemanha, na Áustria, na Espanha) para dissolverem as forças reaccionárias, depurar o exército, expropriar os latifundiários, etc., etc.. Parecerá aos comunistas inexperientes ou desprevenidos uma crítica de princípio. Mas discutir aquilo que a social-democracia devia ou não devia ter feito, do ponto de vista revolucionário, era já tratá-la como um partido operário vacilante e não como um partido burguês. Em vez de mostrar que os sucessivos serviços prestados à burguesia contra o proletariado é que tinham dado acesso aos lugares de ministros para os chefes amarelos, para irem continuar a trair a classe, num plano mais elevado, Dimitrov argumentou como se fosse possível esperar outra coisa desses governos. Criticando os maus governos social-democratas, deixava implícita a ideia de que poderiam vir outros melhores.

[…]O apelo unitário de Dimitrov não conseguiu mudar a natureza de classe da social-democracia. A única coisa que conseguiu, ao prender os comunistas à miragem da unidade, foi arrastá-los para o abandono das suas próprias posições revolucionárias.”

A “frente ampla” parece estar formada, ou ao menos está quase lá, com a figura central sendo, talvez inesperadamente, Lula. No contexto atual, isso independe da vontade de qualquer partido comunista. Também como já disse várias vezes, tem-se o lado positivo de, é claro, não ser fascismo — a famosa decisão “menos pior”, importante no contexto crítico atual.

A subordinação, contudo, dos comunistas à social-democracia e aos partidos social-democratas, parece ser sempre uma renúncia tácita ao direito de crítica e ao oferecimento de uma alternativa tanto ao fascismo quanto à “democracia” burguesa.

Dito isso, importante notar também que a persuasão da classe trabalhadora pela vanguarda se faz através de vitórias — vitórias que os social-democratas não conseguem obter — e não somente críticas, portanto imprescindível pontuar a necessidade latente de capacidade de mobilização através da organização do partido, do trabalho e portanto da classe para que se obtenha tais vitórias ao mesmo tempo em que se demarca a linha entre o reformismo e a atuação revolucionária.