“A morte de cada pessoa me diminui, porque eu faço parte da humanidade” (John Donne -1572-1631)
O luto de cada uma das 250 mil famílias brasileiras que, no último ano, perderam seus entes queridos, tem que ser nosso também.
Um princípio elementar da nossa humanidade é sempre tentar se colocar no lugar do outro. Sentir, em alguma medida, sua dor, sua aflição.
A isso chamam hoje de empatia. Só ela pode trazer alguma alegria. Só imbuídos de um sentimento de pertença perceberemos a tragédia – que podia e devia ser menor – de tantas vidas ceifadas.
Podia ser você, podia ser eu. Quem não tem conhecidos, amigos ou parentes que “partiram fora do combinado” por causa desse vírus avassalador? Quem ainda não percebeu que devia ser diferente, se a Saúde fosse, de fato, “direito de todos e dever do Estado”, como diz a Constituição?
As forças dominantes de hoje são a negação da solidariedade: propagam o desencanto, o individualismo, a estupidez, a agressividade. A postura do “e daí?” e do “não tenho nada a ver com isso” tem contaminado todas as políticas públicas e todos os poderes com seu vírus de morte.
Leia o noticiário de agora. Sim, lá estão esses números (não são cifras, são pessoas!): 250.079 mortos pelo coronavírus no Brasil, 2.497.406 mortos no mundo.
Lá está também o mundo perverso que naturaliza a impunidade, o nepotismo, a tentativa da retirada de recursos mínimos da Educação e da Saúde, a corrupção de ideias e princípios. É o necroestado, é a destruição civilizatória.
Como afirmou a microbiologista Natalia Pasternak, “o Brasil mostrou a receita do que NÃO fazer”. Tem mostrado, e não só no desacerto do combate à pandemia (a última foi a troca na remessa de vacinas, com as 76 mil destinadas ao Amazonas indo para o Amapá).
O governo do Brasil mostra a receita do que NÃO fazer com os povos nativos, com a política energética, com a economia (inflação e desemprego crescentes), com o meio ambiente, com a política (o fisiologismo do Centrão dando as cartas). Tudo isso gera morte.
O desinteresse é também uma forma de morte. A distopia, o viver sem esperança, mata. Re-existir e resistir, fazendo de tanto luto muita luta pela vida, é uma ordem. Ao menos em memória dos que se foram, e do país e do mundo melhor com o qual sonharam.
O alerta de John Donne segue atual: “Nunca me pergunto por quem os sinos dobram: é por mim”.
AJ Cass – inspirado em Bansky