Esse ano que terminou foi dureza, pancada mesmo. Perdemos parentes, amigos, conhecidos, gente demais. A ceifadora passeou desinibida nos mostrando que basta um leve manear de cabeça e ela nos toca, irremediavelmente. O corpo se vai, ficam as palavras de pesar nas páginas das redes sociais ou os sussurros nas antessalas do velório. “Era tão bom”. E segue um rosário de lembranças boas, porque quando a morte vem só fica aquilo que foi essencial, aquilo que definitivamente tocou nosso coração. A bondade, o bem, a beleza. Aquilo que deveríamos ser e que não somos o tempo todo porque a vida nos carrega, na deriva, por caminhos tortuosos. A morte chega para nos dizer disso: das nossas belezas escondidas ou não vividas. Há que despertá-las.
É por isso que gosto de dizer aos que amo que os amo, sempre que os vejo. Gosto de abraçar apertado a cada manhã, cada chegada, cada despedida. Principalmente os que estão no cotidiano. Porque tudo é tão fugaz. Descobri já faz algum tempo que viver é caminhar na beleza, como dizem os navajos. E é preciso reverenciá-la sempre, a toda hora. Dos que amo não espero homenagens à beira do caixão. Quero carinhos agora mesmo, quero olhares de ternura, apertos de mão, aconchego, beijos molhados, cafunés, abraços. E é o que dou também. O tempo todo e sem parar, porque não sabemos o dia nem a hora.
Nesses tempos de angústia, quando tudo se desfaz, só o que permanece é o amor concreto, real, esse que se pode tocar. Esse pequeno texto é um abraço afetuoso a toda gente que caminha comigo, presencial ou virtualmente. O que nos salva são os pequenos gestos poéticos. Sejam pródigos! A revolução invém… nós vamos construir o mundo novo…