Na polêmica do PSOL-Rio sobre proibir ou não candidaturas oriundas de Renova BR, Acredito, RAPS e afins, muitos argumentos são usados. A maioria diz respeito ao PSOL e eu, como alguém que não é do PSOL, tenho nada a ver com isso, mas tem um “argumento” que eu posso e devo comentar.
O José Luis Fevereiro lançou um escrito que é o exemplo perfeito de uma espécie malabarismo argumentativo que deveria valer uma medalha de ouro. Ridicularizou o diagnóstico desses aparelhos de hegemonia como instrumentos de colonização da esquerda e citou o fiscalismo e a defesa da “Lei da ficha limpa” como provas de infiltração real de liberalismo na esquerda.
A lógica do “argumento” é engraçada. É como alguém dizer: bala não mata, o que mata é facada ou cair de um prédio de 12 andares. Oras, todos matam. E o fato de existir um fiscalismo liberal nas esquerdas não anula ou nega o fato de que esses aparelhos de hegemonia da burguesia existem e estão fazendo um ótimo trabalho.
Aliás, o Fevereiro e alguns, na lógica que vem usando, deveriam apoiar a política do Paulo Guedes de tributação dos livros. Tratam como “teoria da conspiração” ou “delírio sectário” um tema amplamente pesquisado e fundamentado. Temos centenas, quiçá milhares, de teses, dissertações, livros, entrevistas, artigos e afins estudando o papel de aparelhos de hegemonia internacional, como Fundação Ford e Rockefeller ou suas variantes nacionais, como Fundação Lemann ou as ações do Banco Itaú.
Aliás, no âmbito da educação é pão comido o debate sobre o papel do Banco Mundial, Instituto Ayrton Senna, Fundação Roberto Marinho, Todos pela educação e afins na disputa das políticas educacionais (e na domesticação do debate de esquerda sobre educação).
Tratam um tema amplamente pesquisado, amplamente conhecido, amplamente documentado, como se fosse algo novo. O máximo de novidade que existe aí é a atuação diretamente focada em formar quadros institucionais – esses movimentos de “renovação da política”. E mesmo nesse tema, já temos um acúmulo bom de material. Eu mesmo estudo a questão, como já disse várias vezes, desde 2017.
Todo mundo pode e deve defender a posição que achar melhor. Agora é importante nessa defesa não queimar os livros…
– Jones Manoel é graduado em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e Mestre em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE-PPGSS. Educador e comunicador popular desenvolvendo iniciativas jornalísticas nos sites Revista Opera, Blog da Boitempo, Jornal O Poder Popular, Lavrapalavra, site do PCB, Youtube (Jones Manoel), TV Brasil 247 e Revolushow (Podcast). Tem interesse nas temáticas de pesquisa: história das experiências socialistas no século XX, questão nacional e colonial, Teoria Marxista da Dependência e pensamento social latino-americano, formação social brasileira, teoria política e do Estado, questão racial e luta antirracista, teoria sociológica e as obras de Frantz Fanon e Domenico Losurdo.
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