O mais difícil do período do fascismo bolsonarista é separar a pauta moral-civilizacional da sócio-econômica. Isso é tão difícil que, por vezes, pensamos que certos absurdos no campo moral-civilizacional são teatros montados propositalmente para nos furtar a atenção de descalabros gigantes no campo sócio-econômico. E muitas vezes é isso mesmo! (O golden shower do presidente, por ex).
Mas ocorre que outros desses absurdos têm função em si, não são apenas funcionais para deixarem “passar boiadas” outras da pauta sócio-econômica. Eles próprios são a quebra de todo tipo de cerca moral-civilizacional construída pelas sociedades (suas leis) por um novo tipo de moral (nada civilizada) imposta pela força e do medo. Continua a ser funcional, mas aí numa escala gigante, pois
só o caos civilizacional geral vai permitir a gestão autoritária total da economia e da sociedade.
E não se enganem liberais do poder econômico (como já se enganaram nos outros fascismos) – não se controla um líder autoritário nem, muito menos, o caos civilizacional que lhe dá base.
Pois bem, os mil e um absurdos e desobediências das leis no triste caso da menina estuprada e grávida, não é um show à parte do fascismo bolsonárico, é sua essência, e deveria servir pra nos mostrar quão rápido caminhamos para o caos civilizacional.
Não estou dizendo pra deixarmos de lado a destruição do Estado pelas medidas perpetradas no terreno sócio-econômico contra nossos direitos e nosso patrimônio, estou dizendo que os processos (ainda não medidas) incentivados no terreno cultural-civilizacional visam mais que a destruição do Estado, visam a destruição da nação, de tudo aquilo ela que remetia a uma sociedade civilizada.
Só assim, os fascismos passados puderam construir nações do “seu jeito”, impérios bélicos. Só assim, os fascistas brasileiros, que sequer almejam algum tipo de nação, podem construir poder do seu jeito. O jeito Mad-Max
Graduação em Ciencias Economicas pela Universidade Federal de Viçosa (MG), com mestrado e doutorado pela Unicamp, com os temas “Desdobramentos lógico-históricos da ontologia do trabalho em Marx” e “Para uma crítica da economia política do não-trabalho”. Trabalhou por 12 anos na Universidade Federal de Uberlandia (MG), de onde afastou-se para atuar no executivo estadual no RS. Tornou a academia para lecionar na área de macroeconomia e economia brasileira na graduação e pós-graduação da Unisinos, também no RS. Hoje leciona na UFRGS e pesquisa temas relacionados às novas formas de articulação do trabalho, seja ao nível mais empírico – como na economias solidária, colaborativa, criativa -, seja ao nível mais teórico – como estes poderiam implicar na construção de formas de sociabilidade pós-capitalista; e temas relacionados a Teoria Monetária Moderna.
(Texto informado pela professora, reproduzido da plataforma Lattes)
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