Paulo Gustavo está na UTI por conta do COVID e os crentes estão dizendo que é por conta dele ser gay. Faz dias que isso está remoendo dentro de mim, dando uma angústia misturada com ódio e tristeza.
Muita gente romantiza a violência sistemática que vivemos desde que nascemos. Dizem que somos fortes por aguentar essas violências mas pouco fazem pra não passarmos mais por elas. Nossa confiança e auto-estima são destruídas desde a infância. Não passamos um mês sem ouvir que somos doentes, pervertidos ou pecadores.
A violência “invisível” é presente em todos os lugares. Do nascimento até a morte. E é invisível só pra quem é hetero, porque a gente vê nas relações cotidianas. E se falamos alguma coisa somos grosseiros, lacradores ou é puro mimimi.
Mas essas violências, aparentemente inocentes, vão perfurando nossa alma. Às vezes como uma fina agulha, outras como se fossem uma facada. A gente vai morrendo antes de morrer. Ou melhor, somos assassinados, simbólica e literalmente. Às vezes aguentamos, às vezes decidimos não aguentar mais, às vezes decidem pela gente.
E a violência sob o outro dói em mim, por sentir como se fosse comigo e também por saber que depois dele será comigo, e depois com outro, e com outro, com outros. E não acaba. E não importa se é com Paulo Gustavo ou se é com Augustin Fernandes, não há bom uso da LGBTfobia, nunca nos privilegiamos dela mesmo quando é usada contra nossos inimigos, porque amanhã ela estará mais forte e será comigo.
Esse texto é um desabafo misturado com grito de socorro.