Talvez o pão que ele deixou de comer pela manhã seja o alimento principal do dia, ou o único. A quentinha chegou, contudo o cheiro desagradável o faz renunciá-la antes mesmo dela bater na pedra. Um odor horrível e repugnante.
Comida na cadeia tem dessas coisas, as vezes só o cheiro é um diagnóstico para expulsar aquele mal da cela, e lançar a brilhosa no lixo. No ambiente que “as aparências enganam” o cheiro revela a certeza necessária: É um nojo!
O cara corre pra comer o pão, e as vezes a Administração Penitenciária sabe do horror que é a comida, então disponibiliza pães para ajudar na refeição do dia. Alguns aventureiros, famintos e desprovidos de recursos, extraem da quentinha a possível proteína que há dentro dela. Fazem um sanduíche.
A cantina da candeia, tipo um mercadinho informal, fatura uma grana em dias assim. Vende muita coisa. O moço que recolhe resto de comida para alimentar porcos também, se um porco deixa de comer o outro porco se alimenta. As sobras das comidas são vendidos para chiqueiros existentes na região. O preso trabalha mais para recolher o lixo, tá mais pesado. Massacre geral. A cadeia é fedorenta e lucrativa.
Um grupo de amigos se organizam para dividir o custo do lanche. Outros dividem aquilo que guardam da sucata da última visita: um biscoito, fruta, pão… A fome reina, não de forma soberana, pois precisa dividir o palco com a solidariedade e com a resiliência. E tudo isso apesar do esculacho e da barbariedade. São nuances da tortura prisional.
(Texto: Samuel Lourenço/ Imagem: Reprodução RPC)