Das coisas que ODEIO no feminismo heterossexual
é esse costume de chamar de “homoafetiva” o lugar de admiração e cumplicidade que homens cis heterossexuais colocam uns aos outros.
Leitura essa que freqüentemente se mistura com uma narrativa que associa machismo a uma suposta “homossexualidade enrustida” – o que por si só já mostra o quanto certos feminismos articulados por mulheres heterocentradas são homofóbicos mesmo.
Mas, pra além disso, implicam no apagamento do quanto essa heterossexualidade cismasculina é violenta contra a homoafetividade de fato, se consolidando como uma instituição de repressão, violência, marginalização e extermínio dessas experiências afetivas.
E ignoram o fato do quanto a admiração heterocis que homens cultivam uns pelos outros opera estritamente desde uma lógica endurecida, competitiva e bélica,
sem espaço para dinâmicas próprias de cuidado, acolhimento e expressão emocional que de fato configuram o que pode ser chamado de Afeto.
Homens cis héterossexuais cultuam outros homens cis heterossexuais, mas isso não quer dizer que suas relações operem desde uma lógica do amor (falando aqui do que se torna padrão nessas relações).
A lealdade que opera entre eles não é, cistematicamente, estruturada pelo afeto – mas por dinâmicas de poder.
Estruturam uma cultura de admiração uns pelos outros não porque se amem – mas por compreender que essa cultura lhes favorece à permanência num lugar de dominação.
Isso não quer dizer que homens realmente “amem” mulheres.
Na verdade, estereotipicamente falando sem esquecer que existem rachaduras, fugas, excessões – o patriarcado é um sistema que induz homens cis heterossexuais a não amarem ninguém.
Nem mesmo a si próprios.
Talvez por isso mesmo suas promessas amorosas se tornem tão vazias – e talvez por isso suas relações se tornem, cis.tematicamente, tão destrutivas.