Porque esta rede não me traz nada de bom, vocês me fizeram clicar num link de uma live do Pedro Doria com uma entrevistada que se diz pesquisadora e “PhD em bolsonarismo”.
Depois de ouvir um monte de categoria absurda e insustentável, fui pesquisar qual instituição de pesquisa era responsável por cometer a produção daquela hecatombe. E, pelo menos desta vez, a academia brasileira não tem culpa.
“Pesquisadora” é uma condição autonomeada, ela não está vinculada a nenhuma instituição de pesquisa. Talvez, seja pesquisadora do… google. Novos tempos.
Ela propagandeia o livro dela que está no prelo. Aí você descobre que além de ser pesquisadora-por-conta-própria, ela é a editora do próprio livro e o site de vendas do livro também é dela. Empreendedora, sem dúvidas.
Em uma ou outra entrevista dada pela “pesquisadora” à mídia liberal que agora não gosta mais do Olavo, é possível descobrir que ela é uma “influenciadora” (embora tenha apenas 9 mil seguidores no twitter, boa parte conquistados depois que essa mesma mídia irresponsável resolveu alçá-la à condição de expert em extrema-direita). Mais do que isso, que ela votou em Bolsonaro em 2018 e é daí que vem seu “conhecimento”. Bem, na minha época, livro sobre experiência pessoal se chamava biografia e, com títulos criativos, dava para vender bastante sem precisar se falsear como pesquisadora.
Pelo visto isso, a mídia liberal não deixou de gostar do olavismo enquanto método de fazer política e intervir na esfera pública. Lembram todos os ministros e postulantes a cargos no governo Bolsonaro que se apresentavam com títulos acadêmicos que não tinham? É sobre isso.
Ao que me parece, aí tem um combo de discurso conveniente, pois a “pesquisadora” é do tipo “Lula e Bolsonaro são dois lados da mesma moeda”, mas também autoindulgente, uma vez que tanto a autora quanto a mídia que resolveu entrevistá-la como especialista estão tentando expiar a responsabilidade pelo genocídio atual.
A autoconstrução da “pesquisadora” é olavista de cabo a rabo:
“Minha pesquisa começou para valer no fim de 2018, de forma independente, por curiosidade intelectual particular” (entrevista para o DW Brasil replicada pelo Terra)
“A microempresária e pesquisadora baiana Michele Prado, de 42 anos, que se diz antipetista e integrante da “direita democrática e liberal”, não tem diploma em ciência política, mas é PhD em bolsonarismo” (Estadão)
Aí quer dizer, depois os representantes desta mesma mídia querem pautar o anti-cientificismo no/do Bolsonarismo? Qual é o sentido de hypar esse tipo de figura à condição de pesquisadora? Podem deixar que eu respondo: é o mesmo que fez Carlos Andreazza ao hypar o filósofo da Virgínia.
Dica: para pesquisas sobre direita, extrema-direita, bolsonarismo, os nomes são Isabela Kalil e Camila Rocha. As duas têm currículo lattes, que é o RG de todo pesquisador. Se não tiver, é estelionato acadêmico e político, cuidado.