Em meus anos na prisão: Já passaram a máquina zero no meu cabelo, mesmo depois de estar cortado bem baixinho.
Já me impediram de sair da cela por conta de alguns fiapos no rosto, como se barbudo estivesse.
Já tive que retornar da inspetoria para ajeitar o cabelo, pelo fato de eu estar utilizando gel e o cabelo ficou arrepiado.
Já me mandaram abaixar a cabeça e olhar pra baixo pelo fato de eu tentar andar de cabeça erguida e contemplar o meu redor.
Já fiquei de cara pra parede uns 40 minutos por causa de um colega que na cela de espera gritou: “vai, mandado!” pro guarda. (essa eu aceito por ficar rindo, e muito!)
Já me mandaram trocar de blusa por causa de um simbolo costurado nela, seja uma bandeira da França ou um jacaré… “Tá pensando que tá rua pra ostentar roupa?” E certamente aquelas roupas eram falsificadas.
Já tentei replicar uma fala do inspetor e ouvi: “Cala a boca, bandido!”
Quando já estava no semiaberto com extramuros – ÁPICE DA RESSOCIALIZAÇÃO – um inspetor me proibiu de usar bluisa azul ou preta, pois eu não era agente pra andar com blusa daquela cor. Pior, no dia anterior eu disse que não lavaria o carro dele, pois estava naquela unidade para estudar, e não pra lavar carro.
Toda exigência conta pelos no corpo nada tinha de relação com higiene, bons modos, ressocialização ou algo do tipo. É que o termo privação de liberdade é amplo e seu significado é esculacho, e mais nada…