A classe média bolsonarista antes endeusou o Moro por ele ter sido capaz de tirar o Lula do jogo político. Como não era possível fazer isso através do voto, que fosse de qualquer jeito. O mesmo sentimento embala a defesa da “intervenção militar”: é sempre o desejo para que um “pai protetor” salve “o país” ( = eles mesmos) do “mal absoluto”.
Uma coisa de cada vez.
Essa turma da Lava Jato conseguiu perder toda sua base social pra Bolsonaro. Levou todo o lavajatismo social pro colo do Bolsonaro, ficando só algumas figuras desse namoro do lado de Moro quando este saiu do governo. Hoje Joice, Major Olimpio e etc. são tratados pelos seus antigos apoiadores como traidores, tal como o próprio Moro. Contrariando muitas previsões, o marreco da República de Curitiba está acabado do ponto de vista de suas pretensões ao Planalto.
No que toca ao papel dos militares no governo, naturalmente são um dos principais beneficiários. Mas é preciso ir um pouco além de uma análise política que fique só no terreno dos interesses imediatos.
Tem muito mais coisa envolvida, e esse é um governo das Forças Armadas, fundamentalmente. A quantidade inenarrável de militares da reserva e da ativa no governo, e o fato de que é sempre nas Forças Armadas que Bolsonaro busca resolver quase todas as crises é em si uma potência permanente de transformação do regime numa ditadura militar, nada menos que isso. O que é Bolsonaro nesse projeto, já que ele mesmo é um defensor da mudança do regime? Um aríete pra derrubar o resto da República de 1988, ou o protagonista de um outro regime?
Uma coisa é certa, seja lá qual for o futuro dessa crise o povo brasileiro não pode nunca contar com as Forças Armadas do seu país. Imaginem se mesmo os mais fanáticos bolsonaristas gostariam de ter de enfrentar uma agressão de uma potência estrangeira tendo o general Pazzuello como responsável pela logística?
E esse é um ponto. Provavelmente as Forças Armadas são a instituição com melhor nível de aprovação social. Não consultei nenhuma pesquisa recente sobre o assunto, mas talvez fosse importante acompanhar a série histórica e ver qual o saldo do bolsonarismo nessa aprovação: melhorou ou piorou? Certamente aumentará o desgaste.
A pressão sobre Bolsonaro essa semana vem se intensificando. Embora com o discurso tímido, a carta dos capitalistas brasileiros sobre a pandemia fez o governo cagar nas calças. Discordo de quem minimizou o episódio, pois juntou os maiores grupos econômicos do país, pra começo de conversa. Essa alegada mudança de postura de Bolsonaro essa semana pode ser atribuída a isso, e o custo de uma eventual saída do Guedes pode ser maior que foi o do marreco. Pro grande capital pode ser o sinal de que o genocida chegou longe demais, não propriamente pelo genocídio de 300 mil brasileiros, mas pela sua falta de “compromisso com o mercado” ( = eles mesmos). Capitalistas e genocídio têm uma relação secular, e não seria por isso que gostariam de brigar com Bolsonazi.